São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 1995
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Consumo e cidadania

A estabilização da economia fez com que as atenções empresariais se deslocassem da chamada ``ciranda financeira" para a produção. O maior poder de compra dos assalariados de baixa renda e o crescimento do crédito ao consumidor propiciaram um forte aumento das vendas. Hoje, a discussão sobre qual o nível de atividade desejável envolve não apenas o controle da inflação, como também a definição dos horizontes de investimento e das metas sociais do país.
No primeiro semestre de 1994, quando a inflação chegou a 50% ao mês, a situação era tal que 330 grandes companhias analisadas pela consultoria Austin Asis acumulavam US$ 5,6 bilhões de lucros financeiros e US$ 5 bilhões de prejuízos na parte operacional.
Com a queda da inflação, a partir de julho, o consumo expandiu-se e o desempenho empresarial foi invertido. Os resultados financeiros caíram, totalizando US$ 5 bilhões no final do ano. Já a performance das vendas superou o prejuízo do primeiro semestre e acabou sendo positiva em US$ 9,8 bilhões.
Inicialmente saudado como um dos principais méritos do Plano Real, o crescimento da economia, considerado excessivo pelo governo, passou a ser alvo de medidas restritivas. Assim, o receio de que o vigor do consumo pressione a inflação coloca o país mais uma vez face a um de seus principais desafios: estabilizar a economia e ao mesmo tempo promover a integração das populações excluídas do consumo, da produção e, por que não dizer, alijadas de sua própria condição de cidadãos.
Num país com as gritantes desigualdades do Brasil, o impulso que a economia recebeu com a estabilização é uma oportunidade não apenas de fazer bons negócios, mas também de começar a reverter uma situação social dramática. O dilema da política econômica assume portanto cores mais fortes.
Seria sem dúvida irresponsável permitir que a economia crescesse, daqui em diante, a um ritmo que inviabilizasse a estabilização. Mas seria uma perda inestimável deixar de avançar, se o sistema econômico de fato o permite.

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