São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 1995
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Castelo na Síria 'testemunhou' as Cruzadas

FRED MADERSBACHER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quem visita a Síria pode ver testemunhos de uma época conturbada que acabou há 700 anos: as Cruzadas, talvez o mais dramático encontro guerreiro entre Ocidente cristão e Oriente muçulmano.
O castelo Crac dos Cavaleiros, chamado por Lawrence da Arábia de ``talvez a mais bem-conservada e mais admirada fortaleza do mundo", foi reaberto ao público.
O Crac está situado a cerca de 40 km da costa e a 70 km da cidade de Homs, na Síria.
Uma idéia da imensidade do castelo, concebido pelo franco Payne de Bouteille no século 11, pode ser dada por suas dimensões.
Construído na crista de uma rocha vulcânica com pedras muito duras cor cinza escuro e um calcário dourado, forma um trapezóide irregular de 180 m por 128 m.
Sua grande muralha de seis metros de espessura projeta-se para fora, debaixo da torre do sudoeste.
A dupla cintura de muralhas e a profusão de torres tornavam a fortaleza virtualmente inexpugnável, desde que ocupada por uma guarnição completa de 4.000 homens.
Os comandantes raras vezes conseguiram juntar mais de 2.000 deles.
Ali os cavaleiros exercitavam seus cavalos e realizavam justas (torneios de guerra) no pátio.
Refeitório e salão de armas ressoavam com suas vozes e música. Na capela cantava-se missa latina.
Para alimentar a guarnição, os soldados exploravam as planícies férteis das redondezas. Cisternas garantiam abastecimento de água.

Cruzadas
As Cruzadas foram animadas por motivos religiosos -a libertação de Jerusalém- ou pelo desejo de nobres de conquistar para si domínios melhores do que aqueles ainda disponíveis na Europa.
No século 11, o controle do mundo muçulmano na região oriental do mar Mediterrâneo tinha passado dos árabes para turcos e berberes (muçulmanos da África setentrional).
No meio da desintegração do império turco, no século seguinte, o reino latino de Jerusalém se expandiu e anexou os condados de Trípoli (atual Trâblous, no Líbano), Antióquia (atual Antakya, na Turquia) e Edessa (atual Urfa, no sudoeste da Turquia), estendia-se da Anatólia (região ocupada hoje pela Turquia) à Terra Santa, incluindo a Síria.
A ocupação dos cruzados cristãos durou dois séculos.
Encontramos fortalezas dos cruzados também na Jordânia, em Israel, no Líbano e na Síria. A mais famosa de todas é o Crac dos Cavaleiros.

Ataques
Em 1163 e 1167, o sultão Nur ed-Din sitiou o Crac dos Cavaleiros com um grande exército. Foi rechaçado.
Seu sucessor, o sultão Saladino (de ``Salah ud-Din", honra da Fé), um curdo da Armênia e de fala árabe, sitiou o Crac em 1180.
Saladino tomou Jerusalém (1187), mas não o Crac.
Em 1217, durante a quinta Cruzada, André 2º, rei da Hungria, chama a fortaleza de ``a chave da terra cristã".
Desde o ano de 1250 uma nova dinastia reina no Egito -os mamelucos, antigos escravos turcos que se apoderaram do trono. O novo sultão é Baibars, o adversário mais ferrenho dos francos no Levante.
Em 3 de março de 1271, Baibars começa o sítio ao Crac dos Cavaleiros. Em 8 de abril cai o último baluarte da fortaleza.
Em mãos dos muçulmanos, o Crac torna-se sede administrativa da ``Província Real das Conquistas Felizes".
Num arco por baixo de curto lance de degraus que leva ao portão principal encontra-se a seguinte inscrição em árabe:
``Em nome de Deus, a restauração desta consagrada fortaleza foi ordenada durante o reinado de nosso senhor, o rei Al-Malek, o Sábio, o Justo, o Vigilante que é ajudado por Alá, o conquistador Rukn al Dunya wal Din Abul Fath Baibars, sócio do califa, neste dia, terça-feira, 25 de Sha'ban 669 da Hégira (8 de abril de 1271)."

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