São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 1995
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Pedreiro diz que foi torturado pela PM

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOROCABA

O pedreiro José Augusto da Silva, 30, está acusando de tortura três policiais militares de Votorantim (98 km a oeste de São Paulo).
Silva foi preso pelos soldados no último dia 21 de março, acusado de ser integrante de uma quadrilha que roubou um caminhão. Ele nega ter participado do roubo.
Segundo ele, os PMs o espancaram nos fundos da delegacia de Votorantim para que confessasse a participação no crime. A polícia nega a acusação.
``Eles bateram muito, principalmente na barriga. Deram chutes e coronhadas de revólver e espingarda por todo o corpo e bateram com cassetete", afirmou Silva.
``Quando eu fui vê-lo na cadeia, ele estava muito debilitado e vomitando sangue", disse a advogada do pedreiro, Vera Lúcia Ribeiro, 38. Em 26 de março, Silva foi internado no Hospital Regional de Sorocaba (87 km a oeste de SP).
Silva disse que no mesmo dia, dois PMs, que ele não saberia identificar, entraram no quarto do hospital, às 2h30, e o espancaram. Um homem que estava internado no mesmo quarto confirmou a agressão, mas pediu para não ter seu nome divulgado.
Silva permanece o tempo todo algemado. As algemas são presas à estrutura da cama. Dois PMs armados fazem a escolta na entrada do hospital para evitar a sua fuga.
Segundo o delegado Júlio Guebert, manter os presos em tratamento algemados é uma ``prática comum" para evitar fugas.
O advogado criminalista José Paulo Lopes, 43, disse que não é ilegal manter um preso algemado ao leito do hospital.
Segundo boletim médico enviado pelo hospital à Justiça -do qual a Agência Folha obteve uma cópia- o paciente deu entrada com um ``grande cisto (tumor onde se acumulam secreções) no pâncreas".
``Provavelmente estas patologias são de origem traumática", afirma o boletim. Isso significa que o hospital não descarta que os ferimentos tenham sido causados pelo suposto espancamento.
A diretora do hospital, Maria Cecília Ferro, 49, disse que a instituição não tem segurança para impedir eventuais agressões a pacientes. ``O preso em tratamento é de responsabilidade da polícia."
A Polícia Civil de Sorocaba está investigando as duas denúncias de agressão contra o pedreiro.

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