São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 1995
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Pessoa física lidera alta da inadimplência

GUSTAVO PATÚ
EM SÃO PAULO

Pelo menos cinco indicadores (veja quadro) comprovam a alta da inadimplência -o atraso de pessoas e empresas no pagamento de compromissos- este ano, em especial no caso das pessoas físicas.
O caso mais grave é mostrado pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), que incluiu em abril 245,5 mil consumidores em sua lista negra -um recorde histórico.
``Outros indicadores, como o número de falências e concordatas, estão crescendo, mas ainda numa faixa normal. Já os registros do SPC estão completamente fora dos padrões", diz Emílio Alfieri, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo.
Segundo os registros da ACSP, a média mensal de consumidores incluídos na lista negra -o que acontece quando um pagamento atrasa 30 dias ou mais- fica na casa dos 50 mil. O recorde anterior, de 1987, era de 106 mil.
O número de consumidores com registro negativo no SPC cresceu 170,3% no primeiro quadrimestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Também indicando inadimplência de pessoas físicas, o número de cheques pré-datados cresceu 76,3% no primeiro trimestre, em comparação com os primeiros três meses de 1994.
A alta da inadimplência entre os consumidores, segundo os comerciantes, é consequência da retomada do crediário permitida pelo Plano Real. O número de clientes do crediário, porém, cresceu cerca de 40%, bem abaixo do crescimento do calote.
Alfieri informa que os números fizeram a ACSP recomendar maior seletividade às lojas na escolha de seus clientes. O movimento gerou uma ligeira queda da inadimplência em maio, diz, mas os números ainda são considerados alarmantes.
No caso das empresas, a incapacidade crescente de cumprir compromissos é demonstrada pelos registros mais recentes de falências, concordatas e títulos, como promissórias e duplicatas, protestados.
``Há uma tendência de aumento da inadimplência agora, mas o consumo só deve baixar a partir de maio", avalia o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e hoje sócio da MCM Consultores.
O número de títulos protestados cresceu 66,9% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. O de concordatas, 45,28% no quadrimestre, e o de falências, 5,96% também no quadrimestre.
As medidas tomadas pelo governo para frear o consumo são apontadas como os principais motivo da inadimplência das empresas. As medidas reduziram a disponibilidade de dinheiro na praça, dificultaram o crédito e provocaram a alta dos juros.
Jean Claude Silbefeld, da Fcesp (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), resume a situação dizendo que ``o pessoal se endividou, achando que a demanda (a procura por bens por parte de consumidores) ia aumentar e quebrou a cara".
Os especialistas ainda acham cedo para prever uma recessão (queda da atividade econômica). ``Pior seria gerar inflação devido ao consumo", considera Loyola. ``Sempre que isso aconteceu, como no Plano Cruzado (1986), a inflação veio acompanhada de recessão".
Para Alfieri, as dificuldades enfrentadas hoje pelas empresas representam um ``sinal amarelo", e ainda precisam ser avaliadas. ``Agora, no caso do consumidor, é sinal vermelho mesmo", completa.

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