São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 1995
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'Germinal' se limita a ilustrar romance

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Germinal
Produção: França, 1993
Direção: Claude Berri
Elenco: Renaud, Gérard Depardieu, Miou Miou, Jean-Roger Milo

Existem no cinema adaptações literárias que atualizam a obra adaptada (como ``Macunaíma"), existem as que mantêm com ela um diálogo criativo (como ``Morte em Veneza"), e existem as que se limitam a ilustrar visualmente o livro original.
``Germinal", o filme, pertence ao terceiro tipo. Fiel à letra e ao estilo do romance naturalista publicado por Émile Zola em 1881, mostra com riqueza de detalhes o dia-a-dia de uma comunidade de mineiros de carvão do interior da França, durante uma crise brava.
O filme é recomendado, portanto, àqueles que não leram o livro e têm preguiça de enfrentar suas 500 páginas, diante das quais três horas de projeção parecem um refresco.
Não que o filme não tenha méritos. O principal está justamente naquilo que ele tem de mais parecido com o livro: a precisão com que retrata o trabalho nas minas, as relações interpessoais e, sobretudo, os conflitos de classe entre mineiros e proprietários.
Assim como no romance, dois personagens se destacam: Etienne (Renaud), um forasteiro que traz às minas o germe da revolução socialista, e Maheu (Depardieu), chefe de uma numerosa família de mineiros, que nem sempre tem comida sobre a mesa.
Entre esses dois pólos -o desejo da mudança e a necessidade da sobrevivência- se desenvolve a principal tensão dramática do filme, embora o confronto político e até físico seja entre os mineiros e seus patrões.
Livro e filme servem também como uma espécie de catálogo das práticas do movimento operário europeu no século passado: das caixas de auxílio mútuo à greve, das negociações pacíficas à quebra das máquinas, todas as formas de defesa e ataque do trabalho contra o capital estão ali.
Há um desequilíbrio entre a descrição precisa e matizada dos trabalhadores, com suas contradições e hesitações, e a caracterização simplista dos burgueses, vistos como fúteis, egoístas, impiedosos -ou, em raros casos, como ingenuamente caridosos.
Se há algo que o filme acrescenta ao livro, até pela natureza do meio, é um realce do sentido físico, material, dos acontecimentos. Os corpos, o carvão, a água, as máquinas -tudo compõe na tela um amálgama sujo, cinzento, mas pulsante de vida.
Não foi casual, desta vez, a escolha de um ator com forte presença física, como Depardieu, para um dos papéis principais.
À parte isso, o filme -o mais caro do cinema francês (US$ 32 milhões)- é de uma competência técnica inquestionável. Pena que tenha deixado de lado a imaginação e a poesia.
(JGC)

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