São Paulo, sábado, 13 de maio de 1995
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Exército pode intervir em usina e refinaria

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA AGÊNCIA FOLHA; DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DO RIO

O Exército pode intervir nas refinarias de petróleo e nas usinas hidrelétricas para garantir a integridade física das instalações.
Desde ontem à noite, os comandos militares do Leste (Rio), Sudeste (São Paulo), Sul (Porto Alegre), Nordeste (Recife) e Amazônia (Belém e Manaus) estão retendo um contingente de tropas nos quartéis -regime de prontidão- para atender ordens do ministro Zenildo de Lucena (Exército).
No regime de sobreaviso, os militares não ficam nos quartéis. Vão para casa à noite e colocam-se há disposição do comando.
Petroleiros da Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC), ocuparam ontem a sede da empresa.
A direção da RPBC disse que cerca de 150 funcionários ``forçaram" a entrada na estatal. A empresa classificou o ato de ``entrada indevida".Por meio da assessoria de imprensa, a RPBC disse que estuda medidas jurídicas.
Prejuízo
A Folha apurou que os prejuízos com a greve dos petroleiros já chegam a R$ 200 milhões. A Petrobrás informou que que só em importações de derivados de petróleo a empresa já gastou US$ 100 milhões. Ainda segundo a empresa, mais oito demissões seriam efetivadas hoje, elevando para 67 o número de demitidos.
A ordem para que o Exército ficasse de prontidão partiu do Palácio do Planalto. Mas assessores do presidente Fernando Henrique Cardoso, em conversas reservadas, afirmavam ontem esperar que não seja preciso usar tropas.
Antes de usar o Exército, o governo quer contar com as polícias estaduais. Ontem, o ministro Clóvis Carvalho (Casa Civil) disse que as polícias estaduais poderão ser acionadas se houver necessidade de segurança adicional nas refinarias onde ainda há greve.
``A Petrobrás tem condições para garantir a segurança nas refinarias, mas as polícias estaduais poderão ser utilizadas, se necessário", disse.
Carvalho não confirmou se o governo estuda a utilização do Exército para ocupar refinarias que estão sendo comandadas por grevistas.
Mas no início da manhã, em entrevista à Rádio Eldorado, o ministro disse que ``as circunstâncias pedem ações" e que o governo não vai hesitar em adotá-las.
Quando questionado se há a possibilidade de intervenção militar nas refinarias, Carvalho foi vago. ``Vocês vão ver", respondeu.
As tropas entraram em prontidão porque a paralisação dos petroleiros passou de uma semana e o abastecimento de gás e outros derivados de petróleo estaria comprometidos.
O ministro Raimundo Brito (Minas e Energia) informou ontem, através de sua assessoria de imprensa, que já determinou à Petrobrás fazer as contratações necessárias para ocupar as vagas provocadas pela demissão de grevistas.
``As demissões são irreversíveis e inegociáveis", ressaltou Brito, segundo sua assessoria.
Carvalho chegou a se equivocar quando questionado sobre uma possível dificuldade de realizar novos concursos, por causa do decreto 1.452, de 11 de abril deste ano.
Este decreto proíbe, até o dia 9 de outubro, a realização de concursos e nomeações para cargos na administração direta, autarquias e fundações públicas federais. A Petrobrás é uma S.A (Sociedade Anônima) e, portanto, está fora do alcance do decreto.
A Polícia Militar de São Paulo decretou ontem estado de ``sobreaviso" de suas tropas, em decorrência das greves dos eletricitários e petroleiros.
Toda uma companhia (90 homens), da Tropa de Choque da PM, foi acionada na tarde de ontem. Os militares já estudam planos de ``defesa" para as usinas de Cubatão (Baixada Santista) e Paulínia (Interior de São Paulo).
``Estamos a disposição da Petrobrás", afirmou tenente-coronel Antônio Rufino Freire, da PM. ``Os homens irão para a rua desde que a Petrobrás nos acione. Vamos tomar conta do patrimônio para evitar o vandalismo dos grevistas e para evitar atos de calamidade", sustenta o oficial.
A Folha apurou que o Serviço de Inteligência da PM, o P-2, dispõe de um levantamento detalhado dos movimentos sindicais de São Paulo e de suas atuações em greves. Por tradição, a PM repassa esses estudos à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).

Colaboraram a Reportagem Local, a Agência Folha e a Sucursal do Rio

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