São Paulo, sábado, 13 de maio de 1995
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Empresas de gás fizeram emenda que favorece OAS

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A emenda que mantém as atuais concessões de empresas de distribuição de gás canalizado foi redigida pela Abegás (Associação Brasileira das Empresas Estaduais Distribuidoras de Gás Canalizado).
Representante das 16 empresas estaduais que atuam no negócio e patrocinadora do modelo que abriu ``parcerias" dessas estatais com a Gaspart (do grupo OAS) e a Petrobrás, a Abegás fez lobby para alterar a proposta original do governo, que estabelecia o fim do monopólio dos Estados na distribuição do gás canalizado.
O lobby é uma palavra inglesa que designa a organização que atua junto aos parlamentares para defender seus interesses.
O deputado Hélio Rosas (PMDB-SP) encampou a proposta da Abegás em março, no início dos debates da emenda constitucional por uma comissão especial da Câmara.
Rosas disse ontem à Folha que contou com a ajuda da Abegás para recolher as 171 assinaturas necessárias (a terça parte dos deputados) para que a emenda de garantia às atuais concessões pudesse ser debatida e votada.
A mudança foi aprovada na comissão especial e confirmada no primeiro turno de votação no plenário da Câmara. O segundo turno foi adiado para a próxima terça-feira por causa da suspeita de favorecimento à OAS.
Conforme revelou a Folha, por meio da Gaspart, a OAS participa de 7 das 16 estatais estaduais de distribuição de gás.
A intenção da Abegás era garantir mais do que a manutenção das atuais concessões. Pleiteava a exclusividade das empresas já instaladas na área de operação.
``Houve uma segunda emenda da Abegás que também apresentei, mas resolvemos adiar a discussão", contou Rosas.
Em documento enviado a parlamentares, a Abegás prega o fim da concorrência para as empresas já instaladas. E argumenta que é preciso ``dar as garantias mínimas para a participação do capital privado nos investimentos".
Ontem, em nota oficial, a entidade voltou à defesa do dispositivo que mantém os atuais contratos de concessão. Diz ainda que ``não favorece grupos em particular".
As atuais concessões têm prazo de 30 anos de vigência. A maioria das empresas foi instalada depois da Constituição de 1988, que atribuiu aos Estados o monopólio da distribuição do gás canalizado.
Em 1990, a Abegás foi criada defendendo um modelo de ``parceria" de empresas públicas com a iniciativa privada. Os Estados manteriam 51% das ações das estatais, e os demais 49% seriam divididos entre uma empresa privada e a Petrobrás.
Inaugurada no ano seguinte à promulgação da Constituição, a Gaspart passou a dominar o mercado. O ponto de partida foi o projeto piloto da ``parceria", posto em prática na Bahiagás (Companhia de Gás da Bahia), no Estado que é a base de operação da OAS.
A Bahiagás é comandada desde sua fundação pelo presidente da Abegás, Roberto Gross, que assumiu pessoalmente o lobby no Congresso. Gross não foi localizado pela Folha. Estaria de férias, segundo seu escritório em Salvador.

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