São Paulo, sábado, 13 de maio de 1995
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Body Count traz 'hardcore' e polêmica

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Show: Body Count
Onde: Olympia (r. Clélia, tel. 011/864-7333)
Quando: terça, às 21h
Preço: R$ 20 a R$ 40

A ficha policial do grupo americano Body Count, que toca terça no Olympia, quase impediu a banda de se apresentar no Brasil (leia texto ao lado).
Os integrantes da banda não se encontram apenas fichados individualmente. Desde que gravou ``Cop Killer" (em 1992), sobre um matador de ``tiras", o Body Count comprou briga com sindicatos policiais e foi atacado até pelo então presidente George Bush.
Apesar da presença de Ice-T no vocal, o Body Count (``contagem de corpos", em inglês) não faz rap, mas uma mistura de metal e ``hardcore" (estilo punk).
O guitarrista e fundador da banda Ernie-C, 32, disse à Folha por telefone, de Los Angeles, que não se impressiona com a polícia brasileira: ``A polícia mata com impunidade em todo o mundo".
Em sua passagem por São Paulo, ele espera encontrar a banda brasileira Viper, com quem gravou no ano passado a música ``Somebody Told Me You're Dead", do álbum ``Coma Rage".

Folha - Como você encara a controvérsia com a música ``Cop Killer"?
Ernie-C - Acho que a polícia se autopromoveu às nossas custas. A música é menos ofensiva do que os filmes ``O Exterminador do Futuro" e ``Assassinos por Natureza", que vangloriam matadores de policiais.
É preciso perceber que, na época (92), o caso Rodney King (negro espancado pela polícia de Los Angeles, que teve a sua agressão filmada em vídeo e exibida nos telejornais do mundo) originou os tumultos raciais em LA e acabou com a moral da polícia. Ela, então, nos pegou como bodes expiatórios para limpar a sua barra.
Folha - O boicote dos sindicatos da polícia foi prejudicial?
Ernie-C - E como! Tínhamos um show marcado para Los Angeles, com Metallica e Guns N'Roses. Ia ser um evento enorme. Mas a polícia pressionou para que ficássemos de fora, dizendo que não daria proteção ao evento.
Folha - A polícia brasileira tem uma ``contagem de corpos" elevada, especialmente no Rio e em São Paulo, onde os relatos de chacinas são cotidianos. Você tem conhecimento disto?
Ernie-C - Não. Mas, em cada país que tocamos, o público parece odiar a polícia. Ela mata com impunidade em todo o mundo.
Folha - Quando você começou a gravar com Ice-T, nos anos 80, já estava numa banda?
Ernie-C - Estava atrás de uma banda. Por ser um guitarrista negro, tinha dificuldades para ser aceito. As bandas só queriam integrantes parecidos com Axl Rose (vocalista do Guns N'Roses), com longos cabelos loiros. Como Ice era meu amigo, eu o incomodava para gravar nos discos dele.
Folha - As bandas de heavy metal tendem a ser racistas?
Ernie-C - Dizia-se que Guns N'Roses era uma banda racista. Mas até Axl me tratou bem.
Racista, para mim, é quem sai nas ruas para atirar nas pessoas.
Folha - Incomoda o fato de o público da banda ser branco?
Ernie-C - Os negros não escutam o que a gente toca. Alguns fãs de rap costumam nos checar, curiosos com Ice-T. Mas nosso público é de adolescentes brancos da classe média. O mais estranho é que, fora dos EUA, o lugar onde temos maior público é Israel.
Folha - Por que negros não gostam de heavy metal?
Ernie-C - Porque as rádios negras não tocam rock. Desde a infância, ouvimos música romântica ou funk. Só quem se interessa por rock são os músicos.

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