São Paulo, sábado, 13 de maio de 1995
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Brasil dá esperança à economia argentina

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O governo argentino aposta quase todas as suas fichas no Brasil, como alavanca para sair da crise em que mergulhou após o terremoto financeiro e cambial no México.
O mercado brasileiro, em ebulição desde o Plano Real, foi responsável por 60% do crescimento das exportações argentinas, o que permitiu ao país gerar superávits comerciais em março e abril de 95.
O superávit comercial é a diferença entre exportações e importações. Grande parte da crise mexicana se deveu a sucessivos déficits nessa contabilidade vital, situação que se reproduzia na Argentina.
Mas, com os saldos de abril/março, a Argentina reduziu o seu déficit comercial, no primeiro quadrimestre do ano, para apenas US$ 266 milhões, um décimo do que no mesmo período de 94 (US$ 2,397 bilhões).
Os saldos com o Brasil ocorrem desde outubro, após 37 meses consecutivos de déficits. No primeiro trimestre deste ano, o Brasil exportou para a Argentina US$ 1 bilhão e importou US$ 1,35 bilhão.
O problema é que o ``efeito aspirador" (o Brasil puxar a economia argentina), como chamam os argentinos, não basta para responder à pergunta central: o modelo argentino é capaz de suportar a crise de confiança derivada da explosão mexicana?
Depende acima de tudo de conjunturas externas, fora, portanto, do controle argentino. A saber:
1 - O país beneficiou-se da contínua queda do dólar frente ao marco alemão e ao iene japonês. Como o peso está atado ao dólar, a queda deste contrabalança a valorização excessiva do peso, facilitando exportações para a área do marco (Europa) e do iene (Ásia).
Desde que a Argentina amarrou o peso ao dólar, este perdeu 35% de seu valor ante o marco e 20% em relação ao iene. Mas, esta semana, o dólar recuperou-se algo. A recuperação continua ou não?
2 - O que vai acontecer na economia brasileira?
3 - Os investimentos externos voltarão ou não? Entre 1990 e 93, a Argentina recebeu cerca de US$ 24,5 bilhões, o terceiro maior fluxo entre os mercados emergentes, após México e China.
Mas depois da crise mexicana, os investidores estão no mínimo ressabiados.
O governo local fez o que qualquer empresa ou indivíduo faz quando o dinheiro fica curto:
1 - Pediu ajuda aos ``amigos" (as instituições financeiras internacionais). Vai receber cerca de US$ 11,4 bilhões no total.
O problema é que, como qualquer empresa ou cidadão, paga juros sobre os empréstimos.
A dívida externa argentina aumentou 21,8% no governo Menem (de US$ 61,268 bilhões para US$ 74,632 bilhões). A do Brasil, no mesmo período, cresceu 16,5%.
Só este ano, as parcelas da dívida a serem pagas valem US$ 5,2 bilhões.
2 - Com menos dinheiro na praça, pessoas e empresas compram e vendem menos. A dúvida é se o sufoco levará a uma recessão (redução da riqueza nacional) ou apenas a uma desaceleração (crescimento menor do que no ano anterior).
Nessa área, os sinais até agora emitidos são de uma desaceleração. A indústria automobilística, o grande motor do ``boom" argentino, vendeu, em abril, 31% menos do que em março, mas, no total acumulado do quadrimestre, a queda foi de apenas 9,1%
A atividade industrial ainda cresceu no primeiro trimestre (2,7%). Aumentou o consumo de carne (7,55%), mas diminuiu o de bebidas em geral e de bolachas.
O governo argentino prevê crescimento de 3% este ano, depois dos robustos 9% de 1994. A oposição e economistas independentes apostam em menos (2%) ou até em crescimento zero.
A Argentina chega, portanto, às eleições de amanhã em uma situação menos crítica do que se imaginava após a crise mexicana, o que ajuda a entender por que o presidente Carlos Menem é o favorito.

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Sobre a eleição argentina na pág. 12

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