São Paulo, sábado, 13 de maio de 1995
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Língua e respeito às diferenças; Neoliberalismo; Montadoras x montadoras; Greves; Questão de método; Preconceito; Ensino religioso; "Don Juan"; Vaticínios literários

Língua e respeito às diferenças
``Em resposta à carta do prezado leitor Radoico Câmara Guimarães, desejaria esclarecer um ponto de meu artigo no caderno Mais! (7/5). Escrevi que `jamais cogitou-se unificar o alemão germânico e o austríaco, o árabe do Oriente Médio e o norte-africano', pensando nos anos e, por vezes, séculos (como para o toscano) transcorridos para que os gramáticos estabelecessem as línguas nacionais adotadas, depois, nas escolas. Consideraram-se as palavras em sua introspecção, acústica e relações, a fim de que a sintaxe facilitasse a centralização política e a aproximação dos povos. Diante disso, a revogação arbitrária de normas -inspirada no iletrismo das mídias (abolição de regências verbais ou separação correta de sílabas, no caso do jornalismo) e no valor de mercado- cria anomias e dificulta a inteligibilidade. O cosmopolitismo requer o respeito às diferenças e à história de cada nação. Do meu ponto de vista, a revisão ortográfica de estilo paleo-modernizadora tende a inviabilizar a disposição generosa de sua carta -a de um português que nos una e não separe."
Olgária Chaim Férez Matos, professora de filosofia política da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

Neoliberalismo
``Com relação ao editorial `Neoliberalismo', publicado em 23/4, concordo e discordo de algumas de suas análises. Entendo que, como qualquer modelo econômico, o neoliberalismo tem suas falhas, mas provavelmente é superior a outros que conhecemos hoje. Chile e Bolívia estão no mesmo caminho da erradicação da pobreza. Isso demanda tempo, mas nesses países há esperança -algo que não existia anteriormente. Sem dúvida, toda reestruturação econômica tem um um período em que o desemprego sobe consideravelmente, mas até que o crescimento econômico volte a produzir empregos."
Antonio F. Keen (São Paulo, SP)

Montadoras x montadoras
``De toda a procedência o editorial `Montadoras x montadoras' (12/5). Foi só o governo federal aumentar a alíquota de importação dos autos para 70% e as montadoras (a Volkswagen com certeza) aumentaram os preços dos seus veículos, que até a antevéspera eram oferecidos com descontos."
Luiz Gonzaga Lima Gonzaga (São Paulo, SP)

Greves
``No dia em que houver uma greve dos garçons, fiquem certos que o governo abriu um bar!"
Estevão Borges (Recife, PE)

``Segundo informação contida na Folha de 12/5, dos 9.000 metroviários, 8.550 entraram em greve, prejudicando 2,5 milhões de passageiros. Ou seja, cada metroviário grevista contribuiu para prejudicar 292,39 trabalhadores. Sugestão para a Folha: pesquisar as unidades da federação de origem desses líderes grevistas, pseudotrabalhadores e incentivadores da greve programada para a próxima terça-feira."
Tabajara de Toledo Leite (São Paulo, SP)

Questão de método
``O jornal do nosso sindicato publicou um artigo de minha autoria fazendo considerações críticas sobre a posição de Gilberto Dimenstein no episódio envolvendo manifestantes e FHC no Recife. O sindicato não remeteu a edição para a Folha, mas tomamos conhecimento da resposta do jornalista na sua coluna do dia 6/5, em que se faz comparação descabida de nossa prática com a de Antônio Carlos Magalhães, o que consideramos uma grave ofensa moral, pois essa figura nada tem de semelhante com nossas práticas."
Geraldo Eugenio Galindo, diretor de imprensa do Sindicato dos Bancários da Bahia (Salvador, BA)

Preconceito
``Foi com constrangimento e desconforto que li a matéria publicada no último dia 10/5 com o título `Taxistas exigem documento de passageiros', medida determinada pelo sindicato da categoria em São José do Rio Preto. Negros e cabeludos terão que se identificar. Temos que identificar quem são os fortes e quem são os fracos. O racismo latente e o preconceito velado não são características isoladas do sindicato dos taxistas de São José do Rio Preto."
Maria Auxiliadora Mendes do Nascimento (São Paulo, SP)

Ensino religioso
``Resposta ao sr. Roberto Augusto Torres Leme, presidente do Sindicato de Especialistas de Educação (edição de 3/5): indicação aprovada pelo Conselho Estadual de Educação reconhece pelo menos oito dimensões (física, intelectual, afetiva, social, moral e cívica, artística, profissional e religiosa) no educando a que a escola pública deve atender. O ensino religioso pode ser considerado como o processo da dimensão religiosa. A fala, na escola pública, é pela `educação integral do educando', e é por isso que lutamos. Sentimos a necessidade e urgência da implementação do ensino religioso."
Maria Helena Ferrini Battazza (São Paulo, SP)

``Don Juan"
``Indignação e espanto foi o que senti ao assistir à peça `Don Juan', do sr. Otavio Frias Filho, diretor desse jornal, e dirigida pelo sr. Gerald Thomas. Senti-me um perfeito idiota assistindo a um elenco de nome numa peça sem pé nem cabeça, com uma dicção péssima, num cenário horrível, usando desnecessários recursos obscenos."
José Tadeu Portilho (Sorocaba, SP)

Vaticínios literários
``Quando dos acontecimentos ocorridos em Tóquio (20/3), em que 12 pessoas morreram e milhares ficaram intoxicadas, noticiou-se a existência de um romance de autoria de Gordon Thomas, `Deadly Perfume', no qual acontece um atentado de modo bastante parecido com o que ocorreu na realidade. Entrementes, esse não foi o primeiro vaticínio encontrado na literatura. Tommaso Campanella, na `Cidade do Sol' (publicada no século 16), falou de embarcações que `viajavam sem velas e sem remos', bem como demonstrou conhecer a hélice e o motor de popa. Na centúria que se seguiu, Cyrano de Bergerac, por seu turno, evidenciou conhecer a existência das vitrolas de corda do término do século 19 (vide `História Cômica dos Estados e do Império da Lua'). Um nome a se acrescer nesta galeria é o de Jonathan Swift, autor das `Viagens de Guliver', que falou sobre os dois satélites de Marte, seus volumes, suas órbitas e sua periodicidade, 151 anos antes de terem sido descobertos. Em sua época não existiam instrumentos ópticos aptos a desvendar tais satélites. Em 1889, Morgan Robertson lançou uma novela intitulada `The Wreck of the Titan', em que noticia a partida do maior, mais luxuoso e, acima de tudo, mais seguro navio transoceânico do mundo. Na fria noite de 14/4/1912, a novela se tornou realidade quando o verdadeiro transatlântico Titanic bateu num iceberg e afundou. Como eles souberam desses fatos?"
Amaro Moraes (São Paulo, SP)

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