São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Maioria é contrária à legalização da maconha

AUGUSTO GAZIR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quatro em cada cinco brasileiros são contra a legalização da maconha. Se a proposta fosse levada ao Congresso, três em cada cinco parlamentares votariam contra.
É o que revela uma pesquisa do Datafolha, realizada entre 21 e 23 de março em 402 municípios brasileiros. Foram ouvidos também 472 dos 594 parlamentares (79%).
Hoje, o uso e o porte de drogas são considerados crimes, segundo a lei 6.368, de 1976. A pena varia de 3 a 15 anos de prisão, além do pagamento de multa.
Na população, 17% são favoráveis à descriminação da droga e 2% não sabem se posicionar. Entre os parlamentares, os percentuais são, respectivamente, de 25% e 9% (leia quadro ao lado).
Segundo o Datafolha, os maiores índices de rejeição na população estão entre as pessoas com mais de 60 anos (86%), entre as que estudaram até o primeiro grau (85%) e entre os moradores em cidades do interior (83%).
A aprovação da medida é aceita por 20% dos homens, contra 13% das mulheres, e por 19% dos brasileiros da raça branca.
Entre os favoráveis, a maior parcela mora na região Sul do país, como em Santa Catarina, que teve o índice mais alto de pessoas favoráveis à legalização (29%).
No Congresso, os principais defensores são da região Sudeste (33%). Os deputados e senadores da região Norte têm o maior índice de rejeição (60%).
O PT é o único partido do Congresso em que a maioria dos parlamentares aprovaria uma proposta de legalização da maconha (59%), enquanto os principais opositores são do PPR (84% da bancada).
A descriminação das drogas, tema de vários projetos em andamento na Câmara (leia quadro ao lado), será discutida em uma comissão especial de deputados, que depende apenas da indicação dos representantes dos partidos.
``Tem que se criar um fórum no parlamento para se discutir o problema das drogas. A comissão vai reunir os projetos e se nenhum servir, fará outro", afirma José Genoino (PT-SP), que pediu a criação da comissão.
O principal defensor da legalização da droga é o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). A idéia de Gabeira é determinar uma quantidade de maconha que o usuário possa ter legalmente, sem ser confundido com um traficante.
``As pessoas que fumam maconha são ridiculamente reprimidas por pessoas que bebem álcool", diz o deputado.
Um dos principais opositores à proposta de Gabeira, o deputado Elias Murad (PSDB-MG), afirma que a descriminação vai aumentar a oferta e o consumo da droga.
``O álcool e o tabaco têm provocado problemas porque são livres e disponíveis", diz. ``Por que nós temos dois erros e vamos querer sustentar um terceiro?"
Neste mês, Murad passou oito dias na Europa para conhecer as experiências com drogas de alguns países daquele continente. Ele organiza para os dias 31 de maio e 1º de junho, na Câmara, um debate sobre descriminação das drogas.

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