São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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'Não comemoramos 13 de maio'

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL AO ALTO TROMBETAS

Na pequena escola municipal de Boa Vista, a professora Jucilene dos Santos, 27, também descendente de escravos, trata o dia 13 de maio e a princesa Isabel como ``uma matéria qualquer".
``Aqui só comemoramos o 20 de novembro, que é a morte do grande líder Zumbi", ela diz.
Na classe, a diretora Deusa Freire do Nascimento, branca, diz aos alunos que ``a cor negra não significa escravidão".
Mas os líderes da comunidade estão preocupados. A escola local só ensina até o primário -4ª série do primeiro grau.
Os que vão para Porto Trombetas não estão conseguindo acompanhar as crianças brancas. Apenas uma chegou ao colegial. O único estudante da comunidade que prestou vestibular não passou.
Apenas três casas da comunidade têm geladeira.
Todas têm aparelho de TV alimentados por bateria. Os moradores acompanham as novelas e assistem telejornais. Uma das casas, coberta de folhas de palmeira, já ostenta uma parabólica.
Patriarca
José dos Santos, 86, é o patriarca da comunidade Boa Vista. Tem cinco filhos, 45 netos e 31 bisnetos. Caminha apoiado num cabo de vassoura e veste velhas camisetas e bonés oferecidos por políticos da região. Santos é quem conta histórias de seus avós escravos.
``Eles tinham que levar brasas na palma da mão para acender o cachimbo de seus patrões, contava minha avó." (AB)

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