São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Os ciclotímicos câmbio e juros

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
EDITOR-ADJUNTO DE ECONOMIA

Cobertor curto. Esta é a marca da política econômica brasileira da última década. País pobre, economia mirrada.
Mesmo agora que as expectativas, sempre ciclotímicas, voltam a dar sinal positivo, o câmbio e os juros continuam sinalizando os problemas de sempre.
Antes da crise mexicana, o diretor do Banco Central, Gustavo Franco, informava que o país ia limitar o ingresso de capitais.
O dólar entrava e a cotação despencava. O dólar barato empurrava os preços internos para baixo (a tal da âncora cambial), junto com as exportações.
Depois, veio a implosão do México. Dólares deixavam o país e o BC adotava uma série de medidas para limitar o adeus.
O BC mudou a banda cambial duas vezes -a última em reunião de emergência pela madrugada - e o ``exportar é o que importa" voltou a ser lembrado.
Agora (ufa), os dólares estão voltando. Mas o preço já caiu e o governo já ensaia leilões para sustentar as cotações.
Afinal, da aventura cambial do ano passado restou pelo menos a lição de que ficar dependente do fluxo de recursos estrangeiros significa a morte.
Assim, dólar barato segura a inflação, mas abre espaço para problemas cambiais. Dólar caro, resolve o problema cambial, mas empurra a inflação para cima.
No caso dos juros, o mesmo problema. O brasileiro está acostumado com taxas nominais hiperinflacionadas. A poupança rende 55% este mês, diziam. Não era verdade, a poupança rendia 0,5% ao mês -o resto era correção monetária.
Agora, com a inflação na casa dos 2%, a poupança rende 3,7%, é pouco? Não. O ganho real (descontada a inflação) é de 22% ao ano. Fora a combalida Rússia e o ``irmano" México, não há país que pague isso.
Não é por uma questão de usos e costumes, mas de preço. Não há economia (nem Estado endividado) que sobreviva.
Logo, juro alto quebra o Estado. Juro baixo eleva o consumo e quebra o plano.
Este jogo do cobre daqui e descobre de lá é, infelizmente, tão ciclotímico quanto as expectativas. Pelo menos enquanto não se reforma o Estado.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

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