São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Inflação negociada

DEMIAN FIOCCA

A noção de que os aumentos de preço são sempre ``repasses" da inflação passada, e de que como tal são aceitáveis, choca-se frontalmente com a estratégia de estabilização.
Os sinais de que os capitais financeiros estão voltando ao país dão um novo fôlego à manutenção da taxa de câmbio estável. Mas, se os preços continuarem a subir por muito tempo, a pressão sobre a cotação do dólar e as tarifas públicas tende a se tornar insustentável.
Como a democracia impôs limites ao quanto é possível utilizar a contenção dos salários para segurar a espiral inflacionária, a administração de preços passou a ter maior importância. Nesse sentido, o governo deu um péssimo sinal ao ceder à pressão das montadoras de automóveis -que graças à redução de impostos estão vendendo e lucrando como nunca-, e sancionar o aumento de preços pretendido pelo cartel.
O fundamento para se obter a desindexação da economia é a confiança no futuro. E, mais do que cortar benefícios da Previdência ou privatizar a Companhia Vale do Rio Doce, esta depende de reequacionar a política de juros e de câmbio e tarifas. Os juros com os quais se pretende atrair dólares para compensar o desequilíbrio externo podem quebrar o Estado e jogar por terra a estabilização.
Mas corrigir esses fundamentos não basta. É preciso quebrar a chamada cultura inflacionária. A inflação negociada -feliz expressão de Rizzieri, presidente da Fipe- é uma nova ameaça à estabilização.

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