São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Menem chega favorito à eleição argentina

CLÓVIS ROSSI; SÔNIA MOSSRI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Erramos: 16/05/95
Quadro sobre eleição na Argentina pág. 1-22 da edição de anteontem ( Mundo) trouxe fotografia de Carlos "Chacho" Alvarez no lugar da foto de José Octavio Bordón. Alvarez era candidato a vice na chapa de Bordón.
SÔNIA MOSSRI
A Argentina iguala hoje um recorde de estabilidade democrática de quase 60 anos: os seus 22 milhões de eleitores escolhem o presidente da República, pela terceira vez consecutiva, em pleito livre e democrático.
O antecedente anterior de três eleições democráticas consecutivas foi em 1928.
Se as pesquisas estiverem corretas, o beneficiário desse recorde será o atual presidente, Carlos Saúl Menem, que conseguirá um segundo mandato até 1999.
Menem obteve do Congresso, no ano passado, uma alteração na Constituição de 1853, que eliminou a proibição de reeleição.
Todas as oito pesquisas mais recentes garantem que Menem alcançará ou ultrapassará os 45% dos votos necessários para evitar um segundo turno.
A eleição se define no turno inicial também na hipótese de um candidato ficar com ao menos 40% dos votos, mas tiver uma diferença de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado.
Os institutos de pesquisa advertem, em todo o caso, que pode haver segundo turno, se for aplicada a margem de erro, normal nesse tipo de levantamento.
O comando de campanha do principal rival de Menem, o ex-governador de Mendoza e ex-peronista José Octavio Bordón, garante ter pesquisas que mostram que há um ``empate técnico" entre ele e Menem.
O empate estaria ocorrendo em regiões do país que concentram 65% dos eleitores. Se for assim, ficaria garantido o segundo turno, acreditam os líderes da Frepaso (Frente País Solidário), a coliga ção que Bordón encabeça.
Se houver segundo turno, ele se realizará até 30 dias depois. Mas tanto governistas como oposicionistas pretendem antecipá-lo ao máximo, para evitar prolongar a previsível turbulência econômica causada pela indefinição eleitoral.
Na única pesquisa sobre um eventual segundo turno, divulgada anteontem pelo jornal ``El Cronista", Menem ganha de Bordón por uma diferença de 43% a 36%.
Mas os partidários de Bordón estão certos da vitória, em caso de segundo turno, porque contam com os votos do que, até agora, era o segundo partido argentino (a UCR, de União Cívica Radical).
O candidato da UCR, o governador de Rio Negro, Horácio Massaccesi, oscila entre 10% e 16% das intenções de voto.
Confirmados esses números, será rompido o bipartidarismo de fa to que marca a política argentina há meio século. Os peronistas (o partido de Menem) e os radicais receberam sempre entre 75% e 90% dos votos nas eleições presidenciais desse período.
Se houver segundo turno, já será uma derrota para Menem. Até explodir a crise mexicana, em dezembro, a vantagem do presidente nas pesquisas era esmagadora.
A crise pôs sob suspeita a estabilidade da economia, ancorada na paridade cambial entre o dólar e o peso argentino: US$ 1 vale um peso desde abril de 1991.
Mas os efeitos da crise mexicana foram em parte contornados pelo governo, o que permite a Menem chegar à votação ainda como favorito, conforme as pesquisas.
Nem o fato de a Argentina registrar desemprego recorde (previsão de 14% para o mês maio) conseguiu trincar o favoritismo.
Menem prometeu, no encerramento da campanha, criar 330 mil empregos até o final do mandato.
Se o presidente ganhar no primeiro turno, começa amanhã mesmo um processo de saneamento do setor financeiro.
Parte dos bancos argentinos está à beira da insolvência, a ponto de a mídia especializada prever que sobreviverá apenas a metade dos 162 bancos existentes até 1994.
Se houver segundo turno, a previsão virtualmente consensual é a de que ocorrerá uma corrida aos bancos e uma forte queda na Bolsa de Valores (estimada em 20% pela Barings Securities, filial argentina da investidora londrina).

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