São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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2º turno gera insegurança

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Se houver segundo turno, também o principal rival de Menem, o ex-governador de Mendoza e ex-peronista José Octavio Bordón, não terá tempo para comemorar.
A filial argentina da Baring Securities, de Londres, prevê que, em caso de segundo turno, a Bolsa de Valores terá uma queda imediata de 20%. É muita coisa.
Basta comparar: somadas as quedas pós-crise mexicana e a recuperação posterior, a perda acumulada pela Bolsa argentina é de 22% sobre 19 de dezembro passado.
A Barings imagina a hipótese exatamente inversa (alta de 20%), se Menem ganhar no primeiro turno.
Não é só a Bolsa que pode sofrer turbulências, no caso da incerteza decorrente de um segundo turno marcado para até 30 dias depois.
Pesquisa com 160 empresários sobre como qualificariam a situação econômica se houver segundo turno resultou em uma média de 4,8, onde nota 1 equivale a caos econômico.
É uma nota levemente abaixo do mínimo clássico para aprovação em qualquer exame (5).
Os investidores estrangeiros, tão desesperadamente cortejados por um país que se habituou a gastar além de seus recursos, adotarão posição de cautela, a julgar pela opinião de multinacionais instaladas na Argentina.
``O investimento estrangeiro de curto prazo busca regras de jogo claras e estáveis, não a incerteza de uma mudança potencial", diz Jorge Vives, da fabricante de cigarros Philip Morris.
É claro que todas essas previsões catastrofistas fazem parte do jogo empresarial de tentar empurrar Menem para uma segunda vitória já no turno inicial.
Mas até o jornalismo mais acidamente crítico do presidente e do que se convencionou chamar de ``estratégia do medo" concorda em que haverá turbulências em caso de segundo turno.
Júlio Nudler, do centro-esquerdista ``Página 12", compara: ``Antes, ameaçava-se com golpe de Estado. Agora, com golpe de mercado".
Mas admite: ``Se Menem não ganhar no primeiro turno, parece difícil que o sistema bancário, já muito golpeado, possa aguentar a fuga de dólares durante as semanas até o segundo turno".
Bordón bem que se esforça para dissolver a estratégia do medo, que qualifica de ``uma manobra mais para que as pessoas, em vez de votar pela esperança, o façam pelo medo".
Mas também acena com a possibilidade de convidar para fazer parte de sua equipe alguns dos principais auxiliares de Domingo Cavallo, ministro da Economia.
Parece ter lido a avaliação da Barings Securities para quem a turbulência no curto prazo durará ``até que o novo presidente defina sua equipe econômica e a política que adotará".
(CR)

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