São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Metade dos bancos argentinos deve quebrar

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Mesmo que vença a eleição já no primeiro turno, o governo do presidente Carlos Menem não terá tempo para festejar.
Na segunda-feira, o dia seguinte à votação e apuração, começa a dolorosa fase de ajuste necessária para evitar o colapso do plano econômico, trincado pelos efeitos da crise mexicana.
O primeiro ataque será no setor financeiro. Calcula-se que, dos 162 bancos existentes até o fim de 1994, só a metade resistirá.
O problema dos bancos desdobra-se em duas partes, uma estrutural e outra conjuntural.
A estrutural: o argentino usa pouco o sistema financeiro. Transita por ele apenas 14,1% do PIB (Produto Interno Bruto, riqueza produzida num ano por um país).
É pouco mais da metade da cifra brasileira (25,5%) e infinitamente menos do que os 69,9% da Espanha, por exemplo.
Como dinheiro é, obviamente, a matéria prima dos bancos, eles têm uma debilidade estrutural, que afeta a economia em seu conjunto. Há menos crédito para pessoas comprarem e empresas investirem.
Com a crise mexicana, introduziu-se um complicador conjuntural. Muita gente tirou pesos dos bancos, trocou-os por dólares e manteve o resultado em casa ou em cofres. Ou enviou-o para o exterior (Uruguai, principalmente).
Foram US$ 6,333 bilhões de depósitos retirados (17% do total). Comparando os PIBs argentino e brasileiro, equivaleria, no Brasil, a uma retirada de US$ 13,1 bilhões -uma catástrofe.
Acrescente-se à fuga dos correntistas, a incapacidade de pagamento dos créditos, pela elevação dos juros. Chega-se à inevitabilidade de uma cirurgia no setor.
Até porque, já na própria segunda-feira, o governo pode ficar acionista majoritário (dono, portanto) de um punhado de bancos aos quais emprestou dinheiro.
Em troca, os bancos depositaram 51% de suas ações no Banco Central, que fica definitivamente com elas se os bancos que não puderem resgatar a dívida. A mídia especializada calcula que 40 estarão nessa situação.
A segunda ofensiva do governo será sobre os governos provinciais (25 ao todo), ao menos contra aqueles que tem déficits enormes.
``Amanhã de manhã, elas (as Províncias, equivalentes a Estados) têm que se pôr a pensar em como resolver o problema do déficit de seus orçamentos e como pagam ou refinanciam as fortes dívidas de curto prazo que acumularam", já avisou Domingo Cavallo, o ministro da Economia.
As Províncias são, de fato, um sorvedouro de dinheiro público, até porque recebem 52% dos impostos arrecadados pelo governo central, além de terem faculdade de cobrar seus próprios impostos.
A maioria delas emprega gente demais, em parte por clientelismo político. O efeito social é inegável.
``O ajuste exigido às Províncias representa demitir pessoal das administrações oficiais, em lugares onde não há fábricas nem alternativas trabalhistas", reclama Daniel Muchnik, um dos mais respeitados analistas econômicos do país e colunista do jornal ``Clarín".
Em um país em que o desemprego já é recorde, mais demissões podem até ajudar as contas públicas mas também atiçam a fogueira do descontentamento social.
(CR)

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