São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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A hora das lentilhas

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Não foi apenas o governo que ficou eufórico (por algumas horas) com as vitórias parciais que vem obtendo no Congresso. A mídia comprometida com o poder anda assanhadíssima. Vejo as folhas esparramarem elogios à estratégia pasteurizada do Planalto para obter tais e tamanhas conquistas. Mas lá no fundo, nos grotões do noticiário, sempre há uma informação que explica a higiene da operação:
``Nos próximos dias, o `Diário Oficial da União' vai engordar com o início das nomeações para cargos de segundo e terceiro escalões. Segundo três lideranças de partidos aliados ao governo, o secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas, garantiu na terça-feira, quando esteve no Congresso, que a partir de hoje (dia seguinte às votações) começam a sair as indicações feitas por acordo entre as bancadas."
Além de sair nos grotões do jornal, a nota foi composta em corpo 6 como aquelas cláusulas dos bilhetes aéreos que ninguém lê. Se houver acidente de percurso, o prejuízo (total e definitivo) é mesmo do usuário.
Ouvi dizer que o ministro Serra, que recentemente tomou conhecimento de uma vaca, também tomou outro conhecimento fundamental: que os preços das estatais postas à venda estavam de 30 a 50% subfaturados. Era aquilo que os velhacos da oposição chamavam de ``bacia das almas". Também se usava a expressão ``preço de banana", que significava a mesma coisa quando as bananas eram mais baratas.
Vicentinho reclamou outro dia que era sujeira tirar monopólio do Brasil para dar ao ACM, ao PFL, ao XPTO. Essa última sigla parece que não tem nada a ver com a coisa. O alfabeto está em vias de reconquistar três letras -o que quintuplicará a possibilidade de siglas que substituam o cansado, o enxovalhado, o abagunçado, o desprezado dissílabo oxítono que tem o mau gosto de rimar com anil.

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