São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Desperdício de energia

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Um documento secreto preparado pela alta cúpula militar, mantido nos arquivos do Conselho de Segurança Nacional, informa que, entre os objetivos do programa nuclear brasileiro, estava a fabricação de "explosivos". Declara-se, ali, na segunda página, que os explosivos nucleares teriam fins pacíficos.
O texto foi preparado pela secretaria do Conselho de Segurança Nacional, responsável pelo sigiloso programa nuclear, fonte da suspeita de que estaríamos construindo uma bomba atômica. ``Idiotice", disse à Folha o ex-presidente Ernesto Geisel, autor do acordo nuclear Brasil-Alemanha que, este mês, completa 20 anos. ``Em quem íamos jogar a bomba atômica? Íamos jogar contra os Estados Unidos?", pergunta.
Ao completar 20 anos, o acordo Brasil-Alemanha sugou US$ 7 bilhões, mas até agora não serviu para rigorosamente nada. Dificilmente se encontrará na história brasileira um investimento com tão baixa taxa de retorno. A suspeita da bomba serviu, entretanto, para contaminar uma vital discussão.
O Brasil corre o risco de ver seu crescimento estrangulado -o que significa menos empregos, menos salários, menos escolas- caso não abra novos flancos de energia. Nosso potencial hidrelétrico tem limites; fala-se até em cinco anos.
Vamos ter que discutir serenamente todas as alternativas -e em ritmo de urgência. Uma delas é, claro, a energia nuclear, um meio cada vez mais seguro de transmissão de energia.
Estamos no seguinte ponto: gastaram-se os US$ 7 bilhões e não se sabe quando (apenas se especula) a usina de Angra 2 começa a produzir. A primeira usina, feita com um antigo acordo com os Estados Unidos, funciona aos trancos e barrancos.
A melhor maneira de descontaminar é o governo, agora civil, eleito democraticamente, transmitir a confiança de que estaríamos a salvo de projetos bélicos. Um explosivo nuclear pode em tese ter fins pacíficos -assim como o avião. Logo, porém, que o homem começou a voar, imaginou um meio de matar gente com mais eficiência.
Nem por isso, claro, seríamos malucos de abrir mão dos aviões.
PS - Nunca consegui entender direito por que o Brasil, abençoado com sol o ano inteiro, está tão atrasado em energia solar. É um misto de irresponsabilidade com falta de vontade política.

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