São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
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Agiota usa cartão de crédito em empréstimo

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

Os excessos de regulamentação e de tributos estão fazendo com que os bancos estejam perdendo competitividade na concessão de créditos.
O sistema informal de crédito (agiotagem) amplia sua sofisticação e passa a atuar em operações com menor taxa de risco. Para garantia de seus negócios já possuem estrutura que permite o recebimento dos empréstimos não só com cheques pré-datados, mas agora também com cartões de crédito.
Os agiotas passaram a utilizar os cartões de crédito para terem uma garantia maior de recebimento, uma vez que a inadimplência (atrasos nos pagamentos) de pessoas físicas chegou a bater recorde histórico em abril, segundo a Associação Comercial de São Paulo.
José Dutra Vieira Sobrinho, professor de matemática financeira e consultor de bancos, diz que a situação atual de elevada regulamentação e de tributos faz com que prospere a atividade do que chama de ``agiota amigo".
Quem empresta dinheiro ao agiota consegue receber mais do que a média de 4% ao mês paga pelos bancos aos aplicadores. Ao mesmo tempo, os agiotas emprestam aos lojistas e pessoas físicas com juros menores do que o dos bancos, pois não pagam impostos.
Sobrinho dá um exemplo para explicar a falta de competitividade dos bancos. Um consumidor que conseguir convencer um gerente de banco a não lhe cobrar juros no financiamento da compra de uma linha telefônica em 12 meses terá que desembolsar, mesmo assim, 45% a mais do que o valor à vista só para o pagamento do IOF (imposto sobre operações de crédito).
Ele mostra que a alíquota atual de IOF de 18%, se transforma em um custo anual de 45% ao ano, entre outros motivos, por causa da necessidade de pagamento antecipado do imposto.
Pelos cálculos de Sobrinho, os bancos mais agressivos na captação de CDBs têm que entregar ao BC de forma compulsória R$ 91,30 de cada R$ 100,00 em recursos destinados a empréstimos.
Há também a exigência de depósito de 15% no BC, quando da concessão de crédito. O resultado é que o banco pode emprestar apenas R$ 8,70 de cada R$ 100,00 de recursos captados em CDBs. Mesmo assim, dos R$ 8,70 emprestados precisa deixar R$ 1,30 como depósito no BC, afirma Sobrinho.
Os juros cobrados pelos bancos em empréstimos a lojas (capital de giro) variam entre 5,5% e 9,6% ao mês. No crédito pessoal, os juros variam de 7,5% a 15% ao mês.

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