São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
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De San Francisco para o fim da picada

WASHINGTON OLIVETTO

Acabo de chegar de San Francisco, na Califórnia, onde fui jurado do Clio Awards, um prêmio que já foi muito importante para a publicidade mundial, principalmente entre 1975 e 1985.
Lembro que em 1982 ganhei cinco ou seis Clios e -garotão- fiquei deslumbrado com o glamour da festa de entrega dos prêmios no Sheraton Center, em Nova Iorque. Fui a essa festa com um publicitário já mais velho, dono de uma agência em Los Angeles, que, apesar de ter nascido no Brooklin, na época conhecia Nova Iorque menos do que eu. Esse publicitário era o Jay Chiat, da hoje mitológica Chiat Day, infelizmente vendida há pouco tempo.
Naquela noite, dois profissionais brilhavam: eu (principalmente na minha opinião) e um diretor de comerciais polonês grandalhão.
O polonês era o Joe Pytka, ainda pouco conhecido e que muito rapidamente viria a se transformar no mais completo diretor de comerciais de todos os tempos. Em 1982, Pytka recebeu Clios pelos antológicos comerciais do futebol americano e do hóquei no gelo para a cerveja Budweiser.
Dois anos depois, em 1984, me desencantei com o Clio. Cresciam os comentários de que representantes locais em diversos países vendiam os prêmios, além de cometer outras barbaridades.
Resolvi não participar mais.
Em 1989, as suspeitas se confirmaram na tal festa glamourosa do Sheraton Center. A gerência do hotel informou aos convidados de black-tie que estava tudo cancelado porque o presidente do Clio, Bill Evans (favor não confundir com o grande pianista), havia fugido com os US$ 2 milhões das inscrições, sem sequer pagar a conta do hotel.
Assim o Clio acabou e nos Estados Unidos o evento é conhecido até hoje como ``The Fiasco".
Em 1991, um grupo de publicitários do primeiro time, capitaneados pelo Jerry Della Femina, resolveu ressuscitar o Clio.
Aceitei o convite para integrar o júri este ano para checar se, agora, a coisa é séria mesmo.
Tive a melhor impressão. O chefão da Clio, Jim Smyth, é um sujeito honesto e competente que ama a boa publicidade. Já na abertura dos trabalhos do júri, deixou claros os objetivos desta premiação. Pediu a todos que não encarassem a competição como uma disputa entre países, mas sim como uma documentação da excelência. Pediu também que fosse banida qualquer peça suspeita de ser fantasma, criada só para festivais, e ilustrou o comentário com uma frase que eu adorei: ``Fazer propaganda assim é como jogar tênis sem a rede".
O júri se comportou muito bem. Tenho quase certeza de que não premiou nenhuma peça fantasma e o resultado final é quase impecável. Pode ter falhas de interpretação, mas não de intenção. Só não diria que o Clio Awards representa o melhor da propaganda mundial no ano que passou porque, devido aos problemas do passado, algumas das melhores agências do mundo ainda têm um pé atrás e não se inscrevem. Do Brasil, existiam poucos concorrentes, mas os premiados são ótimos.
De todo jeito, tenho certeza que, continuando com essa seriedade, o Clio vai voltar a ser importante. Eu mesmo já resolvi que, depois de dez anos fora, no ano que vem voltaremos a inscrever nosso trabalho.
Enquanto isso, aqui no Brasil, encerram-se os trabalhos de premiação do Clube de Criação de São Paulo. Foram premiados diversos anúncios e comerciais inexistentes, e dizem até que o Gasparzinho vai ilustrar a capa do Anuário. Se a nova diretoria do Clube não tomar providências a partir do próximo ano, infelizmente o Anuário vai para o brejo.
Fiquei feliz de não ter torrado a grana da agência num joguinho de tênis sem rede.
Com esse dinheiro, em respeito aos anunciantes, que pediram, aprovaram e pagaram a produção de cada uma das peças; aos profissionais, que planejaram, criaram, produziram e negociaram a programação de mídia; aos veículos, que comprometeram seus espaços e honraram contratos firmados; e ao consumidor, que julgou e deu seu veredicto final consumindo ou não, a W/Brasil vai fazer uma publicação com a maioria das peças que iria inscrever no 20º Anuário do Clube de Criação de São Paulo.
Mas disso eu não preciso falar porque você vai ver.
P.S.: Mesmo sem uma porção de agências importantes concorrendo, o Clio deste ano teve 14 mil inscrições. Se Cannes não se cuidar com a politicagem e as peças fantasmas, logo logo os americanos acabam com eles.

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