São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
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Kasdan faz 'Candelabro Italiano' dos 90

RICARDO CALIL
DA REDAÇÃO

Kasdan faz `Candelabro Italiano' dos 90
O cineasta norte-americano injeta cinismo na fórmula da comédia romântico-turística com `French Kiss'
O cineasta americano Lawrence Kasdan tem uma definição simples para uma comédia romântica: ``Pessoas espertas tomam atitudes estúpidas por razões amorosas".
Em resumo, é o roteiro de ``French Kiss", a primeira incursão do diretor no gênero. Kate (Meg Ryan) viaja à França para reconquistar seu noivo, que se apaixonou por uma francesa. Já no avião, se envolve com Luc (Kevin Kline), ladrão de jóias francês.
``French Kiss" evoca os filmes romântico-turísticos de grande sucesso nos anos 50 e 60, em que os protagonistas dividem os créditos com paisagens de cartão-postal. ``É um `Candelabro Italiano' (1962) adulterado pelo cinismo", como definiu o cineasta à Folha, por telefone, de Los Angeles.
O filme, traduzido para ``Surpresas do Coração", chega ao Brasil na primeira quinzena de junho. Com 9,4 milhões arrecadados, foi primeiro lugar na bilheteria americana em sua estréia, no fim-de-semana passado -um bom começo para um período de entressafra de grandes produções.
Como diretor e roteirista, Kasdan ajudou a renovar diversos gêneros -o ``noir" (``Corpos Ardentes"), o ``western" (``Wyatt Earp"), a aventura (roteiro de ``Caçadores da Arca Perdida") e a ficção científica (roteiro de ``O Império Contra-ataca").
A obra de Kasdan tem marcas pessoais suficientes para identificá-lo como um autor. Na Hollywood de hoje, é dos poucos cineastas que preferem despertar os sentidos e os sentimentos antes dos hormônios e da adrenalina.
``A atmosfera americana pede um cinema mais simples e mais rápido", afirma Kasdan. A frase poderia se referir também à divulgação de filmes. Após regulamentares 20 minutos de conversa, uma agente expulsa Kasdan do telefone para uma outra entrevista.

Folha - ``French Kiss" é sua primeira comédia romântica. Antes, você havia experimentado o ``noir" e o ``western". Você tem um interesse específico em resgatar gêneros clássicos?
Lawrence Kasdan - Não. Escolho o gênero de acordo com as possibilidades de encaixar minhas idéias em uma determinada forma. Uma comédia romântica serve para falar da relação homem-mulher, do amor etc. E, com atores como Meg e Kevin, tudo fica mais fácil. É como navegar com o melhor navio que você possa encontrar.
Folha - Mas a crítica apontou um desnível entre as atuações. Meg Ryan foi ``denunciada" por, mais uma vez, fazer tudo para parecer ``fofinha"...
Kasdan - Ninguém nunca concorda com nada neste país. Metade disse que Meg roubou o filme, a outra metade disse que foi Kevin.
Folha - Você escolheu Meg pelo desempenho em comédias românticas como ``Sintonia de Amor" e ``Harry e Sally"?
Kasdan - Não, foi ela quem me escolheu. Ela me mostrou o roteiro e produziu o filme.
Folha - Então, por que ela o escolheu?
Kasdan - Nós planejávamos trabalhar juntos há muito tempo. Ela gosta dos filmes que eu faço.
Folha - Você acredita em uma volta da comédia romântica?
Kasdan - Não. Sempre houve espaço para ela. A maioria é ruim, algumas se salvam.
Folha - Mas os dois primeiros lugares na bilheteria (``French Kiss" e ``While You Were Sleeping") são comédias românticas.
Kasdan - Mas em um mês os ``grandes filmes", como ``Batman 3", vão explodir tudo pelos ares.
Folha - Você definiria seu filme como uma ``comédia romântica turística"?
Kasdan - De certa forma. É um filme de estrada, um ``Candelabro Italiano" mais cínico. Em vez de reforçar os clichês sobre determinada cultura, o ideal romântico de um país, eu tento ironizá-los.
Folha - Como você recebeu o fracasso de seu filme anterior, ``Wyatt Earp"?
Kasdan - O filme não poderia funcionar em sua época. É um filme longo e complicado sobre um herói que não é um herói o tempo todo. A atmosfera americana pede algo mais simples e mais rápido. Daqui a dez anos as pessoas vão descobrir este filme.
Folha - Você tem uma visão um tanto ``familiar" sobre o cinema. Está sempre trabalhando com os mesmos atores ou algum parente -sua mulher e seu irmão, por exemplo. Por quê?
Kasdan - Fazer um filme é uma experiência desgastante. Quando você encontra alguém com quem se entende, deve repetir a experiência. Meu irmão me introduziu ao cinema quando eu era um garotinho e minha mulher me ajudou a escrever um filme que tinha a ver com situações de nossa vida (``Grand Canyon"). Parece tudo muito apropriado.
Folha - Você se vê como um artesão em um ambiente industrial?
Kasdan - Sim. Quero que as pessoas sintam que meus filmes foram feitos com cuidado e que cada detalhe conta. Tento humanizar os filmes. Não quero manipular o público -uma hora deixá-lo excitado e na outra, assustado.
Folha - Os filmes que você escreveu tiveram mais sucesso do que aqueles que você dirigiu. Como você explica isso?
Kasdan - Os filmes que dirijo tendem a ser mais complexos. Os grandes sucessos costumam ter idéias muito simples.

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