São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Os riscos do impasse

JANIO DE FREITAS

A política do governo de espicaçar os grevistas, sobretudo petroleiros e eletricitários, na suposição de que as greves mobilizem a opinião pública pela quebra dos monopólios, até agora sequer insinuou os resultados pretendidos e acirrou ainda mais a resistência dos grevistas. O confronto, portanto, toma caminho inquietante, daqueles tais que não se sabe onde levam.
O governo tenta encobrir sua verdadeira intenção com o argumento de que endureceu para ver cumprida a decisão de um tribunal. O argumento não resiste à evidência mais simples: antes que a questão chegasse ao tribunal, o atual governo deixara passar mais de quatro meses sem cumprir o acordo feito, com interveniência do então presidente Itamar, entre governo passado e petroleiros.
Neste período, o governo de Fernando Henrique jamais invocou ou sugeriu a invalidade do acordo, que só agora veio a ser imaginada, como artificialismo para que o Tribunal Superior do Trabalho pudesse declarar a greve ilegal (a maioria do TST decidiu que o acordo não podia ser assinado, como foi, pelo ministro das Minas e Energia, mas só por seu subordinado, presidente da Petrobrás).
Há, pois, um elemento comum nas atitudes do governo e dos petroleiros, ou dos grevistas em geral neste momento. O governo está fazendo uso político da greve. Os grevistas, embora partindo de reivindicação trabalhista, escolheram por motivos políticos a ocasião de transformá-la em greve. No caso dos petroleiros, a existência do acordo assinado dava-lhes a certeza da vitória, ou porque o governo decidisse cumpri-lo ou porque o tribunal assim sentenciasse. Haviam esquecido que o TST é tribunal de decisões sempre condicionadas. O governo não agiu à toa.
O presidente Fernando Henrique recusa a intermediação, proposta pelo sindicalista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho. É improvável, no entanto, que de repente se crie solução melhor, para situações de confronto acirrado e desdobramentos imprevisíveis, do que a intermediação. Recusá-la seria, por parte dos grevistas, investir no tudo ou nada. Recusá-la, como faz o governo, é praticar o quanto pior, melhor -supondo que a greve e suas consequências vão, mesmo, criar mobilizações públicas e políticas contra a Petrobrás e a Eletrobrás.
A situação atual é de impasse. Mas, se não solucionado por entendimento, nem por isso o impasse fica no impasse. Dele termina sempre emergindo um fato que o rompe. Com frequência, um fato cuja força, ou violência mesmo, é prejudicial às duas partes. Foi o que aconteceu em Volta Redonda -para citar um exemplo útil neste momento- quando o Exército acabou matando três operários e por muito tempo carregará o ônus desse ato.
Com a força que têm, dado os setores vitais que deles dependem, petroleiros e eletricitários têm tantas condições de levar o governo a uma situação crítica quanto este tem de levá-los. Imaginar relação de forças diferente é iludir-se. E apostar no desconhecido -mas não desconhecido de todo.

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