São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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D. Lucas é um aliado de João Paulo 2º

FERNANDO MOLICA
DO ENVIADO ESPECIAL A INDAIATUBA

D. Lucas é um aliado de João Paulo 2º
Mineiro de São João del Rey, primo do ex-presidente Tancredo Neves (que morreu em 1985, antes de ser empossado), d. Lucas Moreira Neves, 69, é um dos arcebispos brasileiros mais próximos do papa João Paulo 2º. Ele ocupa oito cargos no Vaticano (sede da Igreja Católica).
No início deste ano, d. Lucas chegou a ser apontado por vaticanólogos como um dos prováveis sucessores do papa.
Ele conheceu João Paulo 2º, então arcebispo de Cracóvia (Polônia) em 1974. Karol Wojtyla era consultor do Pontifício Conselho para os Leigos, órgão então presidido por d. Lucas.
Arcebispo de Salvador (BA) desde 1987, d. Lucas passou 13 anos em Roma: depois de presidir o Conselho para os Leigos, ele também foi secretário da Congregação para os Bispos.
Como executivo dessa congregação, influiu na nomeação de mais de cem dos atuais bispos brasileiros -mais de um terço dos eleitores da assembléia da CNBB.
Padre desde 1950, d. Lucas foi ordenado bispo em 1967 e ascendeu ao cardinalato em 1988. Considerados os "principes"da igreja, os cardeais são os responsáveis pela escolha dos papas - dos 286 bispos brasileiros ainda na ativa, apenas cinco são cardeais.
O presidente eleito na CNBB disse ontem que a nova tarefa o obrigará a pedir ao papa a nomeação de outros bispos-auxiliares (atualmente ele têm, dois quais um com 77 anos).
Ao lado do cardeal-arcebispo do Rio, d. Eugênio Sales, d. Lucas foi um dos maiores adversários da Teologia da Libertação, corrente que procura ressaltar a posição de Cristo em favor dos mais pobres.
Em entrevista à Folha no mês passado, ele afirmou que era contra apenas à Teologia da Libertação de caráter marxista (referência ao filósofo socialista Karl Marx).
Em seu livro "A Igreja do Brasil" (editora Vozes, 1994), o padre e teólogo José Oscar Beozzo afirma que d. Lucas integrou o grupo que apoiou as investidas do Vaticano contra a Teologia da Liberação.
Entre seus cargos no Vaticano, d. Lucas integra a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, a mesma que, em 1984, condenou o livro "Igreja: Carisma e Poder", do teólogo brasileiro Leonardo Boff. Na época, d. Lucas não integrava esta congregação.
Na Arquidiocese de Salvador (a primeira a ser criada no Brasil), d. Lucas tem procurado atuar contra o sincretismo religioso que, na Bahia, manifesta-se por uma mistura entre ritos católicos e os de origem africana.
Bispo-auxiliar de São Paulo entre 1967 e 1974, D. Lucas teve chance de ser eleito para a presidente da CNBB em 1991: a reeleição de d. Luciano Mendes de Almeida só foi garantida após uma terceira rodada de votações.
Em 1991, a chapa encabeçada por d. Lucas chegou a ser conhecida como "a chapa do papa".
Na Bahia, d. Lucas foi criticado por diversas lideranças negras, que o acusam de não "assumir sua condição de negro".
A julgar por declarações anteriores de d. Lucas, o trabalho da CNBB com as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) deverá sofrer alterações a partir de agora. Na entrevista à Folha no mês passado, d. Lucas destacara a atuação das CEBs que mantinham-se ligadas à sua arquidiocese. Isto, em detrimento de outras que haviam optado por um trabalho mais independente.
Na mesma entrevista, ele afirmou que o marxismo havia fracassado em todos os setores.

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