São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Eleição marca fim de atrito com Roma

DO ENVIADO ESPECIAL

A eleição de d. Lucas Moreira Neves marca o fim de uma época de conflitos da entidade com o Vaticano. Os atritos começaram a surgir a partir da eleição, em 1978, do papa João Paulo 2º.
Segundo o bispo de Jales (SP), d. Demétrio Valentini -um dos líderes da corrente ``progressista"- havia ``o desejo de não ter conflitos, de superar os conflitos entre a CNBB e o Vaticano".
A exemplo do que ocorreu em 1991, d. Lucas voltou a ser apresentado como o ``candidato do papa". ``Agora as portas do Vaticano vão ficar abertas para nós", disse um bispo, que pediu para não ser identificado.
A participação da igreja nas lutas políticas e sociais foi o pano de fundo das crises com o Vaticano. Apesar de seu envolvimento na situação política do leste europeu, em particular na Polônia, João Paulo 2º sempre fez restrições aos ``excessos" cometidos pelos religiosos latino-americanos envolvidos em lutas de caráter social.
Em 1980, após sua primeira viagem ao Brasil, o papa mandou aos bispos do país uma carta em que pedia ``adesão franca e generosa às normas da Santa Sé".
Na carta, o papa dizia que a missão da igreja era ``essencialmente religiosa" e advertia para o risco de alinhamento com organizações partidárias.
Em 1984, outra crise, desta vez provocada pelo livro ``Igreja: Carisma e Libertação", do teólogo Leonardo Boff, um dos teóricos da Teologia da Libertação.
No livro, Boff propunha uma mudança na estrutura de poder da igreja -menos poderes para o papa e bispo e mais para os leigos e comunidades de base. Foi proibido de se manifestar publicamente sem autorização de Roma.
Em seguida, o Vaticano criou dificuldades para a publicação de novos livros de teólogos da libertação e impôs um maior controle na formação de padres.
O atual presidente da CNBB, d. Luciano Mendes de Almeida, passou boa parte de seus dois mandatos (oito anos) procurando diminuir o impacto de crises entre Roma e os religiosos brasileiros.
Sua última tarefa tem sido negociar a não-punição à freira Ivone Gebara que admitiu a possibilidade de se legalizar o aborto.

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