São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Ice-T faz "voz do diabo" para Sabbath

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ice-T é o diabo. Não é a polícia de Los Angeles quem diz, embora a letra de ``Cop Killer" (matador de tiras) fosse motivo suficiente. O primeiro ``gangsta" do rap faz a voz do diabo no próximo álbum da banda de metal Black Sabbath.
Ele canta hoje no Olympia com sua banda de rock Body Count.
A Folha falou com Ice-T no hotel Maksoud Plaza.

Folha - Os rappers Ice Cube e Chuck D dizem que rap é ``reportagem das ruas", mas, quando há uma polêmica como a de ``Cop Killer", rap vira ``apenas ficção". Rap é fantasia ou realidade, afinal?
Ice-T - Eu faço ``faction". Significa: ``situações factuais colocadas num roteiro fictício". Há muita realidade nas minhas letras, mas não significa que seja literal.
``Cop Killer" saiu um pouco antes dos tumultos raciais de Los Angeles (em 1992) e sua polêmica só registrou a tensão existente entre negros e tiras. Mas ela quer dizer que eu mato tiras? Se for, a letra de ``Evil Dick" também é real: eu tenho um pênis falante!
Folha - Ainda é ficção, quando rappers como 2Pac e Snoop Doggy Dogg são presos por estupro e assassinato?
Ice-T - O que acontece com alguns rappers é que a fama os faz esquecer os limites.
Estou decepcionado, porque 2Pac não parou para pensar. O que houve com ele -o estupro, os tiros trocados com policiais e a tentativa de homicídio que ele sofreu- não precisa ter acontecido.
Quando você tem dinheiro, um monte de amigos lhe bajulando - porque querem dinheiro emprestado- e é tratado como uma personalidade pela imprensa, fica fácil achar que pode viver na velocidade de sua fantasia.
Com Snoop (implicado num assassinato) a história é pior.
Folha - As letras de rap não glamourizam um estilo de vida que pode levar pessoas à cadeia?
Ice-T - Eu gosto de coisas agressivas, mas nunca vou dizer como você deve agir. Se as pessoas se derem ao trabalho de ouvir minhas letras, vão ver que eu sempre me coloco no papel do otário, que consome drogas e usa armas. O otário sempre vai para a prisão.
°Folha - Just Ice, Schooly D e KRS-One afirmam ter inventado o ``gangsta" rap (rap sobre violência), assim como você. Quem foi o ``original gangsta"?
Ice-T - Eu gravei minha primeira música em 1982. E, em 1986, já falava sobre fugir da polícia e coisas assim. Enquanto os outros rappers eram vagos ou celebravam a fantasia, eu comecei a mostrar como era a realidade do gueto.
Folha - Ao lado da violência, sexo é uma das prioridades das letras de rap. Como fica, agora que Eazy-E morreu de Aids?
Ice-T - A história de Eazy-E é triste. Foi um grande aviso para as ruas -e para o hip-hop em geral- despertarem.
Eazy-E não era gay, nem viveu muitos anos com a doença. O jogador de basquete Magic Johnson tem o vírus do HIV e ainda está vivo. Mas Eazy morreu em um mês após ter sido diagnosticado.
A tragédia da sua morte, ao menos, vai servir para uma coisa boa: alertar nossa comunidade de que é preciso se cuidar de verdade, porque essa droga é real. Também me deixou mais esperto.
Folha - Você está sempre escrevendo letras. Já deu para escrever uma na América do Sul?
Ice-T - Sim. Ela se chama ``No Room for Atittude", e é sobre pessoas que são tão miseráveis que não tem como ser rebelde. Só quem pode se dar ao luxo de ter uma atitude é quem tem tempo e dinheiro para isso. Não preciso de gente com atitude na minha frente.

Show: Body Count
Quando: hoje, às 21h
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, tel. 011/864-2122)
Preço: R$ 20 a R$ 40

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