São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Meta é combater desemprego

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Mal os primeiros resultados confirmaram a sua reeleição já no primeiro turno, o presidente argentino Carlos Menem prometeu: ``Vamos centrar nossos canhões no problema do desemprego".
É compreensível que seja esse o alvo principal da nova gestão de Menem, que vai até 1999.
O desemprego chegou, em setembro passado (data do último levantamento oficial) a 12,2% da força de trabalho.
Como há ainda 10% de subempregados, conclui-se que quase um de cada quatro argentinos ou não tem emprego ou tem trabalho apenas precário.
``Sei ler muito bem o que quiseram me dizer os que não votaram em mim", afirmou Menem.
Parece suspeitar que o desemprego foi fator essencial para a decisão dos 50% que não votaram no presidente.
A mídia argentina vaza informações de que a próxima pesquisa sobre a situação laboral, a ser divulgada este mês, mostrará aumento na taxa de desemprego, que teria chegado aos 14%.
Se 12% já é um recorde histórico, 14% então será um escândalo em um país que tradicionalmente viveu o problema contrário, ou seja, a carência de mão-de-obra.
Tanto assim que milhões de paraguaios, uruguaios, bolivianos e, mais recentemente, milhares de brasileiros migraram para a Argentina em busca do trabalho.
Mas a promessa de Menem pode ser frustrada pelo tipo de canhão a ser usado contra o desemprego. O ministro da Economia, Domingo Cavallo, prega a flexibilização da legislação trabalhista.
``Vamos conseguir algo que a Europa não conseguiu, porque eles tardaram anos em dar-se conta de que o desemprego tem sua raiz nas leis de proteção trabalhista. Somos mais realistas", diz.
O ministro pretende, na essência, reduzir o custo de se dispensar um empregado, diminuir a carga fiscal sobre a folha de pagamentos e estender o período de contrato de trabalho a título experimental.
Tais medidas podem até funcionar em um contexto de economia aquecida, exatamente o oposto do que ocorre hoje na Argentina.
O próprio governo calcula que o crescimento este ano será de 3%, menos da metade dos 7,1% de 94.
Nesse cenário, o mais provável é que o empresariado aproveite a flexibilização não para contratar trabalhadores mas para demiti-los a um custo mais baixo.
O governo terá ainda que fazer cortes orçamentários imediatos, afetando especialmente as Províncias. Com isso, os governadores se verão certamente forçados a dispensar pessoal.
Em muitas Províncias, não há atividade privada suficiente para substituir o Estado como empregador.
Outro foco potencial de desemprego é o sistema financeiro, que está à beira da insolvência.
Calcula-se que sobrará até o final do ano apenas a metade dos 162 bancos existentes até o final do ano passado.
Só o tempo dirá, portanto, se os canhões que Menem promete apontar contra o desemprego não se voltarão contra ele, na forma de crescente descontentamento social.
Para quem já se lançou candidato às eleições presidenciais de 2003, seria um tiro mortal.
Menem sabe que o efeito eleitoral da estabilidade na economia estará no mínimo diluído até 2003.
Não pode, portanto, sair da Casa Rosada, a sede do governo, em quatro anos e meio, com a imagem marcada mais pelo desemprego do que pela estabilidade, que, então, será já um fato remoto.

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