São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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Antes que seja tarde

JANIO DE FREITAS

Os ``duros" do governo - principalmente Clóvis Carvalho, Sérgio Motta, José Serra, mas também Bresser Pereira e Nelson Jobim- começaram a perder terreno para os que ponderam, junto ao presidente Fernando Henrique, sobre a necessidade de buscar uma saída para o impasse entre governo e petroleiros, antes que surjam fatos incontornáveis.
Informações coletadas por militares deram contribuição importante, aparentemente até decisiva, para que Fernando Henrique ouça sugestões não provenientes dos ``duros". As informações dizem respeito à disposição da maioria absoluta dos petroleiros, muito mais sólida e extremada do que o governo supunha, e à expectativa de perturbações urbanas caso os derivados de petróleo se tornem amplamente escassos -o que será inevitável, a perdurar o impasse.
O provável é que hoje mesmo, e cedo, comecem conversações reservadas entre as duas partes, segundo a linha de ação que ontem entrou em exame. Como primeira medida, a diretoria da Petrobrás foi marginalizada em tudo o que se refira à greve, que passou a ser assunto de decisões e pronunciamentos exclusivos da Presidência da República ou por ela autorizados.
O necessário
Não é de ``ajuda federal" que o Rio precisa para enfrentar o problema da criminalidade. É, apenas, que o governo federal saia da sua inércia e cumpra os deveres que lhe competem, por ordem constitucional, no combate aos chamados crimes federais: providências que tornem o Rio e o restante do país menos vulneráveis ao contrabando de armas e de drogas.
Essa história de um ``plano sigiloso", a que o ministro Nelson Jobim se refere, soa como outro desvio protelatório. Não há invenções formidáveis a serem aplicadas ao problema da criminalidade. Só existem as óbvias, e são estas que o governo federal não tem praticado.
Os R$ 300 milhões pretendidos por Marcello Alencar são uma fortuna que merece uso melhor do que a alegada ``compra de equipamento policial". Primeiro, porque o problema da polícia não é falta de equipamento em dimensão que inviabilize suas ações, mas falta de comando, de confiabilidade e de organização. Depois, porque é mais do que duvidosa a chegada de tamanha verba à finalidade declarada.
Raciocinantes
Notabilizado pelo fim que deu ao capitão Lamarca, o general e deputado Nilton Cerqueira respondeu assim, quando perguntado se seria o novo secretário de Segurança fluminense: ``O `se' não existe na vida militar".
Ou seja, ``se" o inimigo atacar por um lado, o general não pensou nisso. Mas, ``se" atacar por outro, também não.
``Se" aplicar à sua vida de deputado a teoria que atribui aos militares, o general vai longe, com perspectivas de chegar à vice-presidência da República. Marco Maciel fez carreira fugindo às perguntas com a mesma explicação, sempre: ``Eu não raciocino sobre hipótese". E olha que fazer política é, precisamente, raciocinar sempre sobre hipóteses. A negá-lo, Maciel poderia ter encerrado sua frase mais frequente nas três primeiras palavras. Mas fez escola -e, pior, carreira.

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