São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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O desafio dos empresários

MAURÍCIO LOURENÇO DA CUNHA

Já vai fazer um ano que a operação de todas as linhas de ônibus da capital passou para os empresários do setor. A sigla CMTC desapareceu das laterais dos ônibus e a concessionária de serviços de transporte de passageiros mudou o nome para SPT (São Paulo Transporte S/A).
As empresas contratadas passaram a operadoras únicas do sistema de transporte urbano de passageiros e continuam a ser remuneradas pela própria SPT no regime de serviço pelo custo.
Poucos sabem que é assim que funciona: as empresas são meras arrecadadoras de tarifa e nada têm a ver com a remuneração devida pelo serviço.
O importante é que, atualmente, nossas responsabilidades, que não eram poucas, aumentaram na mesma proporção.
Temos de servir a população usuária do sistema de transporte coletivo, atender às regras impostas pela gerenciadora São Paulo Transporte S/A e ter com os trabalhadores uma relação respeitosa e adulta.
O transporte por ônibus urbano de São Paulo está no centro do grande debate que vive o país atualmente. É que a operação dele foi totalmente entregue às mãos da iniciativa privada, numa gigantesca obra de desmobilização promovida pela Prefeitura de São Paulo, mas cujo longo braço continua gerenciando o sistema.
A população, é evidente, quer mais e melhores transportes, a uma tarifa bem baixa, isto é, de acordo com o salário que os usuários dos ônibus ganham. Os trabalhadores do setor, por sua vez e como é natural, reivindicam salários mais altos.
Os empresários aceitaram o desafio de operar o sistema e lutam para que a oferta de ônibus seja maior e melhor, de forma a suprir as necessidades de seus clientes.
E gostariam de atender às reivindicações dos trabalhadores, se não estivessem algemados a um plano econômico que impede, ao menos no curto e médio prazos, mexer com tarifas, quaisquer que sejam, e que possam sacudir, como num movimento reflexo, o dragão inflacionário.
É lícito supor que o atual momento vivido pelo sistema de transporte urbano por ônibus de São Paulo funcione como uma espécie de laboratório de experiências para a ainda lenta, mas inexorável transferência do setor de serviços para a iniciativa privada, em todos os setores.
Os empresários do transporte urbano de passageiros querem servir de exemplo bem sucedido de que é possível atender à gerenciadora do sistema, respeitar o anseio dos clientes e, no caso dos trabalhadores, negociar o ideal com o viável.

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