São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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A hora de ser magnânimo

LUÍS NASSIF

Não é correta a política adotada pelo governo federal na greve dos petroleiros. Incorre em radicalização que não interessa a ninguém.
Pode até haver manipulação política do movimento. Mas há um elemento concreto de reivindicação e de desrespeito que explica sua radicalização.
Havia um acordo firmado pelo ministro das Minas e Energia, a mando do então presidente da República, garantindo direitos aos petroleiros. Se o acordo era lesivo e o ex-presidente um inconsequente, são outros quinhentos. Irresponsável ou não, era o presidente da República. Seria o mesmo que o Estado de São Paulo deixar de honrar suas dívidas porque ex-governadores foram irresponsáveis no trato da coisa pública.
Se o atual governo considerou inexequível o cumprimento do acordo, o mínimo a fazer seria abrir conversações e prestar satisfações aos petroleiros.
Pode-se argumentar que houve precipitação na greve. Negociar quando se está acuado é sinal de fraqueza.
Mas, quando o Superior Tribunal do Trabalho decretou a ilegalidade da greve, o governo assumiu a iniciativa e várias refinarias começaram a desistir da greve. Negociar em vantagem é sinal de grandeza.
Não foi isso o que ocorreu. Tentou-se humilhar a categoria. O desaforo fez com que os segmentos menos infensos à atuação das lideranças corressem novamente a cerrar fileiras em torno delas. O sujeito tem a perspectiva de direito adquirido. Cortam-lhe o prometido, sem maiores satisfações, e ainda tentam humilhá-lo? Não tem pai João que resista.

Tirando da UTI
Com o fim do monopólio e a implantação de um ambiente competitivo no setor, essas lideranças vão, inevitavelmente, perder prestígio. Vão imperar a busca da competitividade e a volta da eficiência como maneira de enfrentar a concorrência.
Ao radicalizar, o governo comete vários erros. Primeiro, tira as velhas lideranças da UTI. Segundo, espalha um quadro de insegurança para os investidores que pretendam entrar na área no Brasil. Terceiro, pode tirar a legitimidade das reformas assim que um incidente mais grave ocorrer.

Estados e municípios
Têm razão os Estados em reclamar sobre o peso dos juros na rolagem de suas dívidas. Mas está na hora de começarem a pensar em ajustes -inclusive para legitimar o federalismo que se pretende consolidar no país.
Dados do governo revelam que, no biênio 1993/1994, enquanto o governo federal gerou um superávit primário de 2,1% e um déficit operacional de 0,2%, Estados e municípios apresentaram superávits primários de 0,7% e déficits operacionais de 0,5%. Com esses números, os juros, mesmo em níveis mais baixos, devoraram os superávits.

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