São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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Idéias do Dr. Kellogg superam os sucrilhos

Boyle romanceia saga do pioneiro da comida saudável

ZECA CAMARGO
EDITOR DA ILUSTRADA

Parece que o filme não é muito bom. O que é uma pena -e quase um desperdício, já que o livro ``Dr. Kellogg e a Guerra dos Sucrilhos" (que está sendo lançado hoje) parece ter sido astutamente escrito para o cinema.
A adaptação para as telas (sem previsão de estrear por aqui) não fez muito sucesso no final do ano passado nos Estados Unidos e quem ler o livro não pode deixar de se perguntar onde foi que o diretor Alan Parker desandou na hora de filmar.
``Dr. Kellogg" -ou, no título original, ``The Road to Wellville" (algo como ``O Caminho para a Cidade do Bem-Estar")- tem tudo para ser um filme agradável: de personagens caricatos até sub-enredos completamente ridículos.
Pois é, mas parece que não funcionou no cinema. Por isso mesmo, guarde suas energias para o livro.
Nele, tente se concentrar bem nos trechos onde o próprio Dr. John Harvey kellogg aparece. Mistura de biografia com ficção, ele é de uma assepsia infinita e de um rigor absoluto -o que o torna o personagem mais interessante.
É uma pena que, talvez já pensando em uma adaptação cinematográfica, T. Coraghessan Boyle tenha perdido tanto tempo em tramas paralelas.
É na obsessão por saúde e por limpeza que o livro tem a maior graça -especialmente nos inesperados tratamentos que o spa de Dr. Kellogg oferece.
Essa graça é ampliada pelo hilário casal Eleanor e Will Lightbody que sucumbe ao tratamento espartano do Sanatório de Battle Creek -orgulho do doutor.
A rendição, porém, não ocorre no mesmo nível. Eleanor tem uma fixação crescente com as idéias do doutor e está sempre disposta a novas formas de purificação, mesmo que elas sejam tão exóticas quanto uma massagem no útero.
Já Will, afastado das relações sexuais com sua mulher (``ordens médicas"), desenvolve um estranho sentimento pela já estranha enfermeira Irene e é obrigado a penar entre o desejo de um hambúrguer e cruéis dietas de leite ou uvas. Por semanas.
Os desencontros absurdos desses dois personagens mais as palestras charlatãs, os pensamentos absurdos e os pitos rigorosos do Dr. kellogg superam, em interesse, toda a guerra de sucrilhos que sacudiu o estado americano de Michigan no começo do século.
Toda a história de Charlie Ossinin e seu Per-Fo, serve como boa ilustração dessa mania americana.
Se você acha que a obsessão por fibras na alimentação é recente, Dr. kellogg tem algumas surpresas para você. Fora isso, a briga pela comida mais saudável mais uma boa enrolação.
Talvez Boyle devesse seguir um dos princípios rígidos do Dr. kellogg e evitar alguns desvios na história.
E só com muita fibra você consegue retomar o caminho do bem-estar. O que é sempre uma recompensa.

Livro: Dr. kellogg e a Guerra dos Sucrilhos
Autor: T. Coraghessan Boyle
Tradutor: Celso Nogueira
Preço: R$ 28,50
Lançamento: amanhã nas livrarias

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