São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995 |
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Ryan e Quaid estrelam suspense silencioso
JOSÉ GERALDO COUTO
Até dá para entender: suspense psicológico contido e de ritmo lento, o filme (cujo título original é ``Flesh and Bone", literalmente ``carne e osso") tem silêncios demais e tiros de menos para o que os exibidores pensam ser o gosto do público. É um filme de uma violência terrível, mas quase toda ela moral, psicológica, existencial. A rigor, a violência física só ocorre bem no começo e bem no final do filme. Resumo da história: Arliss é um garoto que ajuda o pai (James Caan) a assaltar casas rurais fazendo-se passar por menino perdido que precisa de abrigo. Num desses assaltos, o pai é surpreendido e acaba matando uma família quase inteira: o único sobrevivente é uma garotinha de meses de idade. Corta para 20 anos depois. Arliss (agora interpretado por Dennis Quaid) é um homem de negócios que viaja pelo interior dos EUA. Numa de suas viagens, encontra, primeiro, uma moça meio maluca que abandonou o marido, e depois, seu velho pai (ainda Caan). O leitor/espectador perspicaz não demorará a perceber quem é a moça, nem a adivinhar que ela vai viver um amor complicado com Arliss. Até porque Meg Ryan e Dennis Quaid são casados e formaram par romântico em outros filmes (``Viagem Insólita", ``Morto ao Chegar"). Aqui há, obviamente, uma barreira tremenda para que eles consumam seu amor (a tal da ``força de um passado" a que se refere o título idiota nacional). É desse impedimento que o filme extrai sua tensão dramática. O diretor Steve Kloves já havia mostrado no simpático ``Susie e os Baker Boys" uma considerável sensibilidade para tratar de personagens femininos meio à deriva. Aqui ele confirma esse dom: o personagem de Meg Ryan é ao mesmo tempo divertido e comovente. Depois de deixar o marido, ela tenta sem sucesso ganhar dinheiro como dançarina e strip-teaser. Em seu sutiã vermelho de rendas está escrito ``boom boom", mas como seus seios são pequenos o que se lê é ``boo boo". Detalhes visuais desse tipo pontuam uma narrativa que economiza ao máximo os diálogos e a música. Os silêncios dolorosos, os closes inquiridores e a secura geral da dramaturgia ampliam o impacto dos momentos de explosão. O sangue e o fogo, usados de modo tão perdulário na produção americana convencional, encontram aqui sua verdadeira força e sentido. Vídeo: A Força de um Passado Produção: EUA, 1993, 126 min. Direção: Steve Kloves Elenco: Dennis Quaid, Meg Ryan Distribuição: CIC Texto Anterior: João Gilberto inaugura casa Próximo Texto: "Fresh" apresenta a violência sem paixão Índice |
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