São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Fresh" apresenta a violência sem paixão

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a chegada às locadoras do filme ``Fresh" (1994), o público tem a oportunidade de conhecer o mais completo diretor do cinema negro norte-americano atual: Boaz Yakin. Só que ele é branco.
Ex-produtor, Yakin não é um virtuose da cor como Spike Lee. Nem um documentarista convincente como Steve Anderson. Tampouco domina, como John Singleton, o talento de extrair poesia e lirismo da violência bruta.
O que torna Yakin único é, além de um pouco de cada uma das virtudes dos cineastas citados no parágrafo anterior, a aptidão natural para meter a mão no ninho de vespas da questão racial americana de forma imparcial.
Em ``Fresh", o diretor mostra uma visão quase desapaixonada -e por isso cruel- das relações entre os integrantes do submundo das drogas em Nova York.
Muitos diretores abordaram o tema em outros filmes. O que torna ``Fresh" diferente é mostrar essas relações sob a ótica de um garoto de 12 anos.
E esse garoto (o surpreendente Sean Nelson) lança um olhar frio, quase indiferente, sobre a violência que o cerca. Nada, por mais violento que seja, impressiona Fresh (seu apelido).
Durante todo o filme, Yakin faz uma analogia entre as batalhas nas ruas com a guerra sem sangue dos jogos de xadrez.
Fresh aprendeu isso muito cedo. E sua escola são as partidas de xadrez que disputa com seu pai (Samuel L. Jackson, o parceiro de John Travolta em ``Tempo de Violência") nos tabuleiros do parque Washington Square, em NY.
Com o pai Fresh aprende que, às vezes, vale a pena sacrificar a rainha para conseguir capturar o rei adversário.
E assim ele enfrenta dois poderosos chefões do narcotráfico. Um deles é interpretado por Giancarlo Esposito, famoso por suas aparições em filmes de Spike Lee.
Fresh entrega a vida do seu melhor amigo com a mesma frieza que usa sua irmã como isca. Todos são peões no tabuleiro do garoto.
Na única cena em que demonstra algum tipo de emoção, Fresh chora e deixa o espectador confuso. Não se sabe se as lágrimas decorrem de dor, alívio ou júbilo pela tarefa cumprida.
``Quando o inimigo ataca, defendemos. Quando o inimigo se defende, atacamos. Quando o inimigo se cansa, vencemos."
``Fresh" faz da guerra uma arte.

Vídeo: Fresh
Direção: Boaz Yakin
Distribuidora: Europa Home Video (tel. 011/725-5274)

Texto Anterior: Ryan e Quaid estrelam suspense silencioso
Próximo Texto: 'Assassinos' sofre envelhecimento precoce
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.