São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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PC chinês tenta frear "caça às bruxas"

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O Partido Comunista chinês lançou instruções para frear sua campanha anticorrupção e evitar que ela se transforme numa ``grande caça às bruxas".
O PC teme que o aumento das investigações traga instabilidade política, arranhe sua imagem e afaste investidores estrangeiros.
O documento da Comissão Central de Disciplina do Partido foi divulgado ontem pelo ``South China Morning Post", o principal jornal de Hong Kong.
As instruções buscam colocar sob controle da direção partidária a decisão de iniciar investigações.
O Partido Comunista conquistou o governo em 1949 e, desde então, mantém o poder centralizado. A introdução do capitalismo na economia, iniciada em 1978, não provocou a democratização.
As estruturas locais do partido precisam agora do sinal verde de instâncias superiores para deslanchar investigações contra militantes acusados de corrupção.
A Justiça, que pode impor a pena de morte, deve receber autorização do Politburo (órgão máximo de poder do PC) para investigar o alto escalão, como ministérios.
As investigações da campanha anticorrupção não atingem nenhum integrante da família de Deng Xiaoping, declarou Wu Jianchang, genro do líder chinês.
Debilitado por problemas de saúde, Deng, 90, não aparece em público desde fevereiro de 1994 e rumores falavam que parentes dele estariam sob a mira da Justiça.
A cruzada anticorrupção, intensificada no final de 1994, fez sua maior vítima a 27 de abril último.
Nesse dia, Chen Xitong foi obrigado a se afastar do cargo de secretário (principal dirigente) do Partido Comunista em Pequim.
Depois do afastamento de Chen Xitong, o presidente Jiang Zemin teria declarado uma moratória nas investigações sobre corrupção entre ``líderes importantes".
Chen Xitong era um declarado adversário do presidente. Chegou a questionar a capacidade de Jiang para suceder Deng, que já não ocupa mais nenhum cargo oficial.
A 4 de abril, Wang Baosen, vice-prefeito de Pequim, se suicidou. Ele era acusado de receber dinheiro para facilitar aprovação de projetos de construção na capital.
O ex-secretário Chen Xitong estaria ligado ao esquema de Wang.
A campanha anticorrupção do presidente Jiang tem três objetivos: promover sua imagem como político com autoridade, impedir a desmoralização do PC e, de quebra, se livrar dos inimigos.

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