São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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Governo de Tóquio sofre atentado com pacote-bomba

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Horas depois da prisão do guru Shoko Asahara, suspeito de ordenar ataques a gás no Japão, um pacote-bomba explodiu nas mãos de um assessor do governador de Tóquio (capital). A explosão reacendeu preocupações que haviam diminuído com a captura do líder da seita Aum Shinrikyo (Ensinamento da Verdade), acusada pelo ataque com gás venenoso em março ao metrô de Tóquio, que deixou 12 mortos e 5.000 intoxicados.
O premiê japonês, Tomiichi Murayama, lembrou em mensagem que muitos membros procurados da seita estão em liberdade e que a polícia não está segura de ter apreendido todas as armas químicas em poder dos fiéis de Asahara.
Algumas horas depois do conselho de Murayama, o pacote-bomba explodiu no escritório do governador de Tóquio, Yukio Aoshima.
A explosão cortou a mão esquerda do assessor que abria o pacote e feriu outro funcionário. O governador, eleito no mês passado, não estava na sala. A polícia se recusou a comentar um possível vínculo entre a bomba e a prisão de Asahara, realizada ontem num complexo da Aum Shinrikyo em Kamiku-Isshiki, sopé do monte Fuji (cerca de 100 km a oeste de Tóquio).
Mas Aoshima havia prometido desmantelar a seita se Asahara fosse acusado oficialmente pelo ataque de 20 de março em Tóquio.
O atentado a gás é considerado o maior caso de violência em massa no Japão desde a Segunda Guerra Mundial. Jornais de Tóquio imprimiram edições especiais sobre a captura de Asahara.
A polícia encerrou ontem oito semanas de buscas pelo guru barbado de 40 anos, cujo verdadeiro nome é Chizuo Matsumoto.
A prisão, chamada pela mídia japonesa de ``dia X", ocorreu pouco antes das 10h de ontem (22h de anteontem em Brasília), após quatro horas de buscas. Dentro dos labirintos do complexo da seita, o guru foi encontrado sentado de pernas cruzadas, em posição de lótus, numa sala secreta com um metro de altura.
Para chegar a Asahara, a polícia abriu caminho com soldadores até o quartinho, construído entre o segundo e o terceiro andar de um edifício conhecido por sexto Satian" (verdade em sânscrito).
"Pode alguém cego como eu ter feito uma coisa daquelas?", perguntou Asahara quando um policial leu o mandado de prisão.
Helicópteros sobrevoavam o local, enquanto se levantava um espesso nevoeiro. Segundo relatos, Asahara sofre de graves doenças no coração e no cérebro.
Além dele, a polícia prendeu ontem outros 16 membros da seita, dos 40 para os quais havia mandado de prisão.
As ordens de prisão foram emitidas após a captura de Yoshihiro Inoue, considerado o "ministro da Inteligência" da seita e mentor intelectual do ataque ao metrô.
Membros da seita tentaram inocentar Asahara de operações com sarin. Preso, o maior químico da seita Masami Tsuchyia admitiu que a seita fabricou sarin.
Em buscas anteriores, a polícia havia encontrado no complexo laboratórios e todos os ingredientes necessários à fabricação do gás.
Houve ontem buscas em 130 propriedades da seita. Desde março. 200 membros foram presos.
Pode levar ainda anos para que um tribunal japonês chegue a um veredicto sobre o caso, que pode incluir a pena de morte.
Embora a prisão do guru tenha trazido algum alívio à população, o primeiro-ministro Murayama pediu vigilância redobrada.
"Não pode ser descartado que a seita esteja escondendo sarin em algum lugar, precisamos permanecer vigilantes", afirmou.
A polícia mobilizou 80 mil homens, um terço de sua força total, para prevenir novos ataques. Desde 20 de março houve pelo menos quatro casos de intoxicação coletiva por gases misteriosos que não estão resolvidos e uma tentativa de assassinato contra o chefe da polícia japonesa.

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