São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Com o rabo entre as pernas

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Vicentinho cortou o cabelo, Lula chamou entrevistas, os bispos foram convocados, mas a greve não deu certo. A busca agora é por uma saída ``o menos humilhante" possível, no dizer da Bandeirantes.
Não vai ser fácil. Evidência disso foi o discurso do padre Roque, um parlamentar petista, ontem na Câmara, depois reproduzido pela CBN:
- Querem fazer com que os petroleiros voltem humilhados ao trabalho. Querem fazer com que voltem, como diz a gíria, de cabeça baixa e com o rabo entre as pernas. Não é possível, senhor presidente! Um ser humano tem direito de divergir, de discordar.
O padre se ofendeu, em especial, com os acenos do presidente de ``suspensão das punições em troca do fim da greve", como noticiou o SBT.
É a crueldade, já esperada. Crueldade que se viu no rosto frio do porta-voz do presidente, ao anunciar a proposta humilhante, ou ao repetir, inabalável, na Manchete:
- Houve uma quebra da legalidade. O governo está inteiramente dentro da legalidade, buscando evitar prejuízos para a população.
Os prejuízos estão aí, na televisão, para quem quiser ver. Ontem, as cenas das filas para compra de gás, além de outras cenas referentes às tantas greves em serviços públicos, foram a regra.
Também foram regra as declarações de contrariedade ouvidas pelos telejornais, nas ruas. Um exemplo, de uma mulher ouvida na longa fila de uma distribuidora de gás em São Paulo, na Globo:
- Saí de casa às três da manhã para estar neste lugar.
- Que sacrifício, hein!?
- b.
- A gente vê que é uma greve política.
- Estou há mais de três horas esperando aqui, junto com a minha esposa, junto com os companheiros, passando um sufoco violento, sendo que não seria necessário.
- Quem tem que pagar são os grandes, não a gente.
Dá para entender por que a greve não deu certo.

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