São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Embaixada no Zaire pára de emitir vistos

PAULO FERNANDO SILVESTRE JR.
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 20/05/95
Texto sobre o vírus Ébola publicado ontem à página 1-13 informa incorretamente que a cidade de Kikwit fica a oeste da capital do Zaire. Mapa ao lado mostra que a cidade fica a leste.
Embaixada no Zaire pára de emitir vistos
A embaixada brasileira em Kinshasa, capital do Zaire, não está emitindo mais vistos de entrada no Brasil desde ontem, segundo informou, em entrevista, Arnaldo Clarete Salabert, 34, encarregado de negócios da representação.
A medida procura evitar que o vírus Ébola, responsável pela epidemia de febre hemorrágica no Zaire, chegue ao Brasil.
Ontem, a OMS (Organização Mundial da Saúde) disse que o número de casos confirmados subiu para 114.
Autoridades sanitárias zairenses afirmaram que a epidemia matou 86 pessoas. A OMS registra 79 mortes.
"A situação deveria causar muito pânico, mas não causa, porque os meios de comunicação são muito limitados e controlados pelo governo, diz Salabert.
"As pessoas aqui não sabem bem o que está acontecendo.
Segundo ele, o governo local estaria desviando parte das doações vindas de outros países e usando-as para se autopromover.
Por isso, muitas embaixadas estariam cuidando diretamente da distribuição dos donativos.
Salabert diz que as condições do país são extremamente propícias para a disseminação do vírus.
Segundo ele, serviços básicos não são realizados há muito tempo por falta de pagamento dos funcionários públicos. Os saques são constantes.
Os próprios militares participam das pilhagens, segundo Salabert. Ele afirma que a coleta de lixo não é mais feita porque o Exército roubou os caminhões de lixo.
Salabert também acredita que os bloqueios sanitários em torno de Kinshasa e de Kikwit não estão funcionando. "Os bloqueios sanitários não têm médicos, diz.
Além disso, o diplomata afirma que os soldados responsáveis já teriam estipulado um preço para "furar o bloqueio: US$ 40.
Os que querem chegar a Kinshasa e não podem pagar estão sendo retidos em Mongata, que fica a 150 quilômetros da capital.
O local é um ponto de parada de caminhões. Já há cerca de 3.000 pessoas lá, sem água ou comida.
Por enquanto, nenhum caso foi confirmado na capital. O vírus estaria restrito à região de Kikwit (400 quilômetros a oeste da capital e foco original da doença) e a outras três cidades, Mosango, Kenge e Iasa Bonga, todas localizadas entre Kikwit e Kishasa.
Ontem, as autoridades sanitárias locais identificaram um caso em uma vila próxima a Kikwit.
Eles acreditam que o vírus ainda esteja em período de incubação (sem manifestação dos sintomas) em muitas outras pessoas.
O vírus já está se espalhando entre a população geral e não mais apenas nos hospitais. A OMS começou a recolher cadáveres nas ruas com caminhões.
A Folha tenta há três dias falar com a embaixada do Zaire e com a residência do embaixador no Brasil, mas não obtém resposta.
Segundo Salabert, isso aconteceria porque as embaixadas do Zaire no exterior não recebem dinheiro há muito tempo.
"O encarregado de negócios deles sobrevive dando aulas de francês em Brasília, disse Salabert.
Se não houver tratamento médico adequado, o Ébola pode matar em nove dias. O índice de mortalidade chega a 90%. Não há vacina ou tratamento contra o vírus, que causa sangramentos pelo corpo.
Segundo Adauto Castelo Filho, professor da Universidade Federal de São Paulo, não se sabe ainda onde o vírus fica "guardado entre as epidemias. A hipótese de macacos foi descartada, pois eles também morrem com a infecção.
Castelo diz que a contaminação pelo ar foi confirmada em laboratório, mas diz que o principal mecanismo de transmissão é através de contato com fluidos infectados, como o sangue.
A conclusão vem de epidemias anteriores, onde percebeu-se que apenas pessoas que tratavam de doentes se contaminavam.

Com agências internacionais

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