São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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'Ele é um ignorante sobre a cultura negra'

DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

A reação da comunidade negra ao artigo de Luiz Mott foi imediata. Antônio Carlos dos Santos, o ``Vovô", presidente do bloco musical Ilê Aiyê, rebateu.
``Ele quer aparecer no ano em que se comemora 300 anos da morte de Zumbi", disse. Mott afirma que possui ``pistas seguras" de que Zumbi era homossexual (leia texto acima).
``Desafio qualquer historiador a provar que Zumbi tinha mulher e filhos", diz Mott.
Ele cita o que considera cinco ``pistas" para comprovar a suposta homossexualidade de Zumbi. A primeira é que Zumbi não teve mulher, nem aproveitava a poligamia, privilégio concedido aos chefes guerreiros.
Ele também seria conhecido pelo apelido de ``Sueca". O terceiro ponto é que Zumbi era descendente dos Jagas de Angola, tribo que teria homossexuais, segundo Mott.
Outro fator, de acordo com Mott, é que Zumbi foi criado até os 15 anos por um padre, com quem teria tido um envolvimento.
Ao ser preso e executado, em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi degolado, castrado e teve o pênis enfiado na boca.
Segundo Mott, esta era uma forma antiga de matar e humilhar pessoas consideradas ``falsas".
``Não conheço nenhum trabalho de Mott sobre a luta dos negros. Agora ele ataca o mais importante símbolo histórico da luta dos negros no Brasil", disse Santos.
``Ele é um ignorante sobre a cultura negra. Confunde o apelido `Sueco' de Zumbi, que significa invisível em banto (dialeto africano), com Sueca", disse Walmir França Santos, diretor de cultura do bloco Olodum.
``As críticas de dirigentes de entidades negras ao meu artigo revelam o preconceito machista deles. Eles passam de oprimidos a opressores, numa espécie de racismo antigay", disse Mott.

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