São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Inadimplência paga estabilidade, diz Malan

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A atual onda de inadimplência (falta de cumprimento de obrigações contratuais e do pagamento de prestações) por parte de pessoas físicas e empresas é o custo que a sociedade tem que pagar para a estabilidade da moeda.
O recado é dos ministros Pedro Malan (Fazenda) e José Serra (Planejamento). Foi dado a uma platéia de empresários no seminário "O futuro do Real", promovido pela revista "Exame", ontem, em São Paulo.
Os ministros descartaram qualquer possibilidade de medidas imediatas para a redução dos juros e desvalorização do real frente ao dólar, conforme pedem os empresários.
"Não existe lugar nenhum do mundo em que se baixe a inflação, com um programa de estabilização, de uma maneira totalmente indolor e sem custo algum para ninguém", disse Malan.
Serra disse que esses custos (a concordata de empresas, por exemplo) fazem parte da fase da transição da hiperinflação para um cenário de moeda estável.
Malan disse que o governo não vai proibir o consumo, porque o que cada cidadão faz com sua renda disponível é uma decisão individual sobre a qual o governo não tem controle.
Mas mostrou pouca simpatia com a potencial quebra de empresas e dificuldades financeiras das pessoas físicas.
"O governo chamou atenção repetidas vezes que não havia razão para o nível de consumo antecipado que estava acontecendo, financiado via crédito farto ainda que a um custo elevado", disse.
Para Malan, as pessoas estão descobrindo que talvez tenham ido "um pouco longe demais no vermelho do cheque especial e no uso dos cartões de crédito que foram distribuídos à fartura via Correios".
"O dinheiro de plástico é uma ilusão, porque a renda real não aumenta simplesmente pelo fato de se carregar dez cartões de crédito".
Segundo Malan, as dificuldades atuais fazem parte do processo de ajuste e da mudança da cultura inflacionária no país.
Lembrando que o governo dizia, desde o ano passado, que taxas de crescimento de vendas reais de 20%, 30% e 40% por mês não eram sustentáveis a longo prazo, Malan responsabilizou os próprios empresários por estarem correndo hoje o risco de inadimplência.
Aposta errada
"Quem se programou e se endividou contando que ia ter aumentos de vendas nas mesmas proporções fez uma aposta errada, o que faz parte da economia de mercado", disse.
Criticando também os consumidores apressados, Malan disse que a experiência dos 11 meses de real mostrou que os preços também podem baixar em termos nominais.
Ele disse que o consumidor tem que estar atento em vez de entrar no pânico da cultura inflacionária e achar que tem que consumir hoje porque amanhã está mais caro.
Frisando que pode ser "exatamente o contrário", Malan disse que a média das previsões de especialistas indicam uma inflação de cerca de 11% para os primeiros seis meses deste ano.
"Essa que seria a menor taxa de inflação no país em mais de 25 anos significa um enorme ganho em relação ao passado recente".
Malan disse que os consumidores que se dispuserem a esperar vão comprar por preços menores as dezenas de milhares de carros importados.
Ele disse que é isso que o governo está querendo sinalizar: adiar o consumo faz parte de uma nova mentalidade de uma economia com 11 meses de estabilização.
Malan afirmou que o governo não vai admitir o crescimento "insustentável" de vendas em 40% como ocorreu em São Paulo em março deste ano em relação à março de 94.

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