São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Modernização do Rio esbarra no atraso

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Nos últimos cinco anos o futebol de São Paulo venceu quatro campeonatos brasileiros e o São Paulo Futebol Clube conquistou dois títulos intercontinentais, batendo, em Tóquio, os incensados Barcelona e Milan.
Enquanto em São Paulo a parceria com empresas e a tentativa de profissionalizar a gestão dos clubes começavam a forçar o bloqueio do atraso (ainda a ser superado), no Rio, dirigentes da sofisticação de um Eurico Miranda ou de um Caixa d'Água promoviam melancólicos torneios. Os três últimos conquistados pelo Vasco da Gama, no mais pífio e sonolento dos tricampeonatos de que se tem notícia.
No mesmo período, os cariocas se limitaram a festejar uma vitória nacional do Flamengo, sempre Flamengo, e se viram repentinamente no incômodo papel de várzea, celeiro de craques e técnicos para o exterior e São Paulo.
Celeiro, diga-se, da melhor qualidade. Apesar de dirigentes desqualificados, jogadores o Rio sempre produziu.
Agora, presidentes como Kleber Leite e Montenegro, respectivamente do Flamengo e Botafogo, parecem dispostos a adotar métodos gerenciais mais modernos no futebol carioca.
A luta vai ser dura. O atraso continua ativo: conchavos, roubo de renda, falsificação de bilhetes -e uma cultura de bandidagem engravatada e promíscua, que, aliás, contamina outras tantas instituições da cidade e do Estado do Rio.
Mas são obstáculos superáveis, e, para isso, têm contribuído os próprios jogadores e a chamada ``opinião pública" carioca -apesar de alguns exemplos ridículos de provincianismo na dita ``crônica".
É o caso do jornalista Oldemário Touguinhó (também conhecido como Alphonsus Simone), que, para promover o Rio, destila semanalmente seu rancor suado contra São Paulo, chamando paulistas de ``caipiras", num espaço que já foi ocupado por gente com mais humor e cosmopolitismo, como Sandro Moreira e o afiadíssimo João Saldanha.
Falo com tranquilidade, porque sou do Rio e despertei para o futebol lendo Nelson Rodrigues e outros craques bem mais finos do que o senhor Old-emário, que acha que só ele torceu para o Brasil na Copa e vive a bajular os tristes burocratas da incompetente CBF.
Em duas recentes notas, Old-emário atacou os ``caipiras": 1) pelo apelido de Animal que Edmundo recebeu por aqui; e 2) pelo fato de a Folhater apurado um erro na contagem dos gols de Pelé.
No primeiro caso, desconhece a gíria ``animal", usada muito antes do apelido por adolescentes e roqueiros. Ela substitui aquelas dos tempos do onça (e do Old-emário), tipo ``monstro", ``fera".
No segundo caso, credita a reportagem da Folha, fruto de trabalho minucioso, a uma suposta mágoa de paulistas pelo fato de Pelé (jogador que o futebol de São Paulo revelou ao Brasil e ao mundo) ter feito o ex-milésimo gol no Maracanã.
Ora, Old-emário, tenha a santa paciência! Vamos jogar bola. O Rio para ser grande (e tomara que volte a ser) não precisa disso. Precisa é acabar com isso.

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