São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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"Uma Cama para 3" é comédia moral

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Uma Cama para Três (Gazon Maudit)
Produção: França, 1995
Direção: Josiane Balasko
Elenco: Victoria Abril, Josiane Balasko, Alain Chabat
Estréia: hoje nos cines Liberty, Olido 1, Top Cine e circuito
"`Dona Flor e Seus Dois Maridos". Só que aqui os dois estão vivos -e um deles é mulher.
Esse, em resumo, é o argumento da comédia ``Uma Cama para Três".
Detalhando melhor: em Avignon, no sul da França, um corretor de imóveis mulherengo (Alain Chabat), casado com uma espanhola fiel (Victoria Abril) e pai de dois filhos, é surpreendido um dia pela insinuante amizade entre sua mulher e uma veterana hippie e disc-jóquei (Josiane Balasko).
A espanhola, cansada da indiferença do marido na cama, resolve dar corda à atração que exerce sobre a nova amiga, dando origem a esse triângulo bizarro.
A partir daí, o filme tem altos e baixos. Em seus melhores momentos, é uma comédia escrachada que beira o pastelão. Nos piores, isto é, naqueles em que parece se levar a sério como ``estudo das relações sexuais modernas", torna-se em geral piegas, enfadonho e de mau gosto.
Há passagens irresistíveis, como aquela em que o marido machão e a amante (igualmente machona) da mulher resolvem fazer um filho juntos. O desencontro entre seus corpos, que na verdade se repelem, é filmado com humor, coragem e frescor.
Talvez esses esquetes cômicos compensem os não poucos deslizes sentimentalóides. Dois destes são intoleráveis: a cena em que uma prostituta dá uma lição de amor ao conquistador inveterado, e o encontro do amigo do protagonista com a filha adolescente, que ele não reconhece e em quem aplica uma cantada.
Esses momentos revelam uma faceta moralista do filme, que só na superfície se apresenta como obra transgressora e libertária.
A mistura de melodrama e comédia, de elegância e breguice, de transgressão e preocupação moral também faz parte, alguém pode dizer, do cinema de Almodóvar.
Só que há uma diferença fundamental. Ali onde Almodóvar nada, Josiane Balasko se afoga. No caos onde Almodóvar encontra poesia, ela encontra discurso feminista.
Seu filme dá a nítida impressão de algo fora de controle, de um conjunto de forças desiguais que domina sua autora.
Talvez isso ocorra porque ela tentou suprir com uma pose pretensamente ``esperta" algo que não é substituível: o talento.
Duas possíveis compensações: o charme sensual de Victoria Abril e o engenho cômico de Alain Chabat.
(JGC)

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