São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Vietnã tem cozinha tradicional variada

HAMILTON MELLÃO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os soldados norte-americanos, cansados da guerra e da monotonia alimentar de suas carnes enlatadas, entregavam-nas às donas de casa vietnamitas.
Depois de algumas horas, elas traziam um prato multicolorido pelas verduras, ervas e apresentação dos ingredientes, que em nada lembravam aquela gororoba enlatada que haviam recebido.
Oliver Stone disse numa entrevista que, se era possível encontrar algo de positivo na guerra, eram justamente estas reconfortantes refeições.
A importância na apresentação do prato é tão fundamental que um dos dotes a ser levado em conta por um pretendente é se a futura mulher sabe decorar os alimentos de modo que fiquem ``interessantes aos olhos" ou, como eles dizem, ``me phio".
Várias horas do dia da mulher vietnamita são dedicadas a estes arranjos gastronômicos. Existe até uma rivalidade entre vizinhas para ver quem fará o prato mais bonito para sua família.
Apesar da forte influência cultural dos vizinhos China, Laos e Camboja, a cozinha vietnamita conseguiu crescer praticamente ilesa, assimilando somente um leve sotaque francês, adquirido durante a ocupação do país.
Este sotaque é sentido quando vemos um popular carregando uma baguete debaixo do braço, como se estivesse no Quartier Latin, ou no modo de preparo do café -o Vietnã é o único país do Sudeste Asiático onde esta bebida é tão popular quanto o chá.
A sobremesa mais popular é o crème caramel, nosso conhecido pudim de leite. Lá, curiosamente, é comido no meio da refeição.
Os alimentos são normalmente envolvidos em folhas de alface ou em banh trang, papel finíssimo de arroz comestível. Os diminutos embrulhos são molhados então numa delicada combinação de sumo de lima e nuoc nam, um encorpado molho de peixe vietnamita.
Não é feita muita distinção entre sabores e texturas das carnes. Num mesmo prato, é possível encontrar frango, porco, lulas secas e cubos de peixe frito, por exemplo.
Como guarnição, amendoins torrados e pilados, finas tiras de cenouras e cebolinhas verdes, tudo escudado pelo arroz, presente em todas as mesas e ingrediente básico da culinária, feito e servido à semelhança do japonês.
O prato mais conhecido fora do país é feito somente em grandes festas e comemorações. Trata-se do famoso ``sete maneiras de carne de vaca", em que a carne é assada, grelhada, salteada, frita, cozida, guisada e marinada.
Depois, é servida separadamente em sequência com os molhos fracos no começo e os mais fortes no fim, em banquetes que demoram no mínimo quatro horas para ser degustados.
O tira-gosto popular é o chao tom, uma fantástica e inusitada combinação de cana-de-açúcar com pasta de camarões, consumida na beira das estradas ou nas bancas de rua.
Para preparar, são necessários seis toletes de cana de 20 centímetros cada, 500 gramas de camarão cru descascado, uma colher de sopa de caldo de peixe, duas claras bem batidas, sal, pimenta, óleo e cebolinhas verdes picadas.
Com uma faca afiada, limpe a cana da sua pele. Moa os camarões com o caldo de peixe e as claras e tempere com sal e pimenta. Faça uma pasta, adicionando uma ou duas colheres de água gelada.
Com as mãos umedecidas, molde a pasta de camarões no meio da cana, deixando cinco centímetros em cada borda, pincele com óleo e cubra com as cebolinhas.
Asse sobre brasas de carvão, virando e pincelando óleo de vez em quando, até que a massa enrijeça. Sirva imediatamente.
Este prato, assim como outros desta genial cozinha, pode ser comido tranquilamente em Paris ou Nova York, pois estes países receberam um afluxo muito grande de imigrantes vietnamitas.
Não deixa de ser curioso que uma megalópole gastronômica como São Paulo não disponha de nenhum restaurante desta culinária.

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