São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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O custo social dos juros

O governo federal gastou na área de saúde no ano passado cerca de R$ 7 bilhões. A conta dos juros para a União, Estados e municípios foi de R$ 20,3 bilhões no mesmo período. Quase três vezes mais.
Em virtude das altas taxas de juros, a dívida do Estado de São Paulo cresceu, segundo relatório reservado do Banco Central, em R$ 450 milhões ao mês entre agosto de 1994 e março último. A folha de pagamentos do Estado na área de educação, por exemplo, era no início do ano de R$ 110 milhões. Quatro vezes menos. Mesmo com o aumento do piso salarial dos professores para R$ 200,00, negociado para pôr fim à greve, São Paulo gasta com os salários da educação cerca de R$ 140 milhões por mês.
E, desde março, os juros subiram ainda mais. As taxas básicas pagas pelo governo passaram de 3,25% ao mês para 4,2% mensais. Com câmbio estável, o Tesouro está pagando juros de mais 60% ao ano em dólares! É uma barbaridade.
Na defesa de tal política, o governo federal argumenta que é preciso conter o ritmo exagerado de crescimento econômico para preservar a estabilidade. Não se pode negar, de fato, que o controle da inflação deve ser prioritário. Foi essa, afinal, a mensagem que emergiu das urnas nas eleições presidenciais. Garantir o valor da moeda impede que a deterioração do poder de compra dos salários mais baixos agrave as desigualdades de renda.
Da defesa da estabilização à pratica de juros estratosféricos como os atuais há, entretanto, uma imensa distância. As estupefacientes taxas mantidas pelo Banco Central atacam antes a produção do que o consumo, inflam os custos industriais e injetam na economia um novo poder de compra para todos os que têm aplicações financeiras.
O aumento acelerado da dívida pública, ademais, pode vir a minar as expectativas de estabilização. Teme-se que o governo não tenha como enfrentar, mais adiante, tamanho custo financeiro.
É preciso admitir abertamente os custos absurdos que essa política de juros implica e as dúvidas que pairam quanto a seus reais efeitos sobre a inflação. Uma política que ameaça sobremaneira o equilíbrio das contas públicas e que consome mais do que os gastos em educação e saúde da União e de Estados não pode continuar indefinidamente.

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