São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Saquê e sashimi; Bens de Quércia; Gália; Medicamentos; Concessões; Assalto; Desaparecidos; Vigilância da Amazônia

Saquê e sashimi
``Um amigo meu do Brasil teve de me mandar um pacote e embrulhou-o numa Folha de 11/4. Por acaso, li uma carta que comentava um artigo de Arnaldo Jabor da véspera e reproduzia, não sei se citando fielmente ou apenas de memória, uma frase que achei destroçante: `O atraso não é um fracasso; é uma conquista das classes dominantes'. Diga-me -existe aí mais gente que pensa assim, ou o senhor escreveu essa frase só para o deleite de um emigrado perdido aqui nas montanhas de Nagano? A meu ver a idéia de que as classes dominantes `querem' manter o atraso da sociedade transpassa os temas do `conservadorismo' e da `dominação', que são os temas clássicos da sociologia analítica. Apenas como curiosidade e como hobby tento exercer as ferramentas da sociologia crítica nesta sociedade tão pacata e onde a dominação se faz de forma tão encoberta e difusa. Não fique triste se os donos do poder no Brasil te entristecem. Os daqui são a mesma coisa: tomando saquê, comendo sashimi."
Paulo Lollato (Matsumoto, Japão)

Bens de Quércia
``Como os demais leitores da Folha, fui surpreendido no dia 17/5 por uma espécie de `A Hora dos Mortos-Vivos' política -o artigo do ex-governador Orestes Quércia sobre `Liberdade de imprensa'. Citado como `apenas um dócil cumpridor de tarefas' devido a reportagem que publiquei na revista `Veja' em novembro de 1992, tenho a informar o seguinte: 1) A reportagem em questão foi a primeira a fazer um levantamento técnico sobre o patrimônio do ex-governador, que por artes do folclore político era estimado em até US$ 500 milhões; 2) Ao contrário do que diz Quércia, a reportagem cuidou de consultar especialistas em mercado imobiliário e os departamentos de avaliação das prefeituras onde os bens estão situados. A avaliação dos bens oficialmente registrados em nome do ex-governador ou nos de suas empresas, abrangendo imóveis rurais e urbanos, jornais e emissoras de rádio e TV, atingiu US$ 52 milhões, em valores de 1992. Esses bens foram adquiridos ao mesmo tempo que o político paulista ocupava, sem interrupção, seis mandatos políticos; 3) Quércia relembra anúncio que mandou publicar em jornais de todo o país, oferecendo alguns dos bens listados pela reportagem `por 1/4 do valor a eles atribuído'. Ele afirma que `não apareceu ninguém' disposto a comprar tais bens por tais preços. Recebi telefonemas na redação da `Veja' de pessoas que queriam saber se a tal venda anunciada nos jornais era para valer. A maioria parecia convencida de que se tratava de uma bravata. Não tive como responder aos leitores; 4) Quércia diz que não processou a revista na época porque esperou passar o `período eleitoral'. A eleição que o ex-governador esperou passar foi a de 1994, ocorrida dois anos após a publicação da reportagem sobre seu patrimônio; 5) Ao `repórter incompetente' só resta o cansativo exercício de lembrar que o ex-governador paulista amargou um quarto lugar na eleição presidencial passada, atrás de um candidato que precisava lembrar aos eleitores: `Meu nome é Enéas'. O artigo na Folha deve ser para não deixar o eleitor esquecer que seu nome `é Orestes'."
Milton Abrucio Jr., jornalista (São Paulo, SP)

Gália
``Em reportagem intitulada `Êxodo ameaça cidades paulistas', publicada à pág. 3-2 de 1/5, legenda de foto diz `Igreja abandonada na cidade de Gália, que já teve 35 mil habitantes e hoje tem apenas 10 mil...'. Quadro mais abaixo afirma que Gália possuía, em 1950, 18.076 habitantes, e, em 1991, 10.488. Mas o que mais causou espécie no seio da família galiense é que a referida igreja, estampada no jornal, localiza-se na fazenda São João do Tibiriçá, que dista cerca de 12 quilômetros da cidade de Gália, e não diz respeito, em hipótese alguma, a `igreja abandonada na cidade de Gália...'."
Ermano Piovesan, prefeito de Gália (Gália, SP)

Nota da Redação - Os dados disponíveis registram que Gália chegou a ter 35 mil habitantes na década de 30, número que caiu para 18.076 segundo o censo do IBGE de 1950 e para 10.488 segundo o censo de 1991. A igreja cuja foto foi publicada não é a matriz de Gália, mas sim a de um antigo povoado abandonado naquele município.

Medicamentos
``Para dar maior clareza ao artigo `Medicamentos e algumas falácias', publicado na Folha de ontem, pág. 2-2, gostaríamos de retificar o seguinte conceito, por nós erroneamente emitido: a permissão para que o laboratório descobridor de um medicamento use a sua marca comercial é um dos meios para estimular a pesquisa de novos produtos e não o único meio, como está expresso no texto."
José Eduardo Bandeira de Mello, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (São Paulo, SP)

Concessões
``Com relação à reportagem `Um em cada seis congressistas tem rádio ou TV' (14/5), gostaria de esclarecer: sou sócio cotista da Rádio Ribeirão Preto (que funciona em duas ondas -média e tropical), cuja concessão foi concedida em 1953, ainda no governo do presidente Vargas. Não sou o dono, mas possuidor de apenas uma cota em dez cotas iguais. Comecei a trabalhar nessa rádio aos 17 anos de idade como repórter. Depois de 26 anos de serviços, eu e mais seis funcionários antigos fomos transformados em pequenos sócios, com um plano especial de pagamento e um preço praticamente simbólico. Resumindo: sou proprietário apenas, e tão-somente, de 1/10 da mencionada emissora de rádio e não fui beneficiário da concessão concedida por Getúlio Vargas, pois somente passei a ser acionista após 25 anos da concessão."
Welson Gasparini, deputado federal pelo PPR-SP (Ribeirão Preto, SP)

Assalto
``FHC começou o programa `educação' para a competitividade que vai financiar cursos nas empresas privadas, anunciando gastos de R$ 100 milhões. Ao mesmo tempo, quer livrar-se da Petrobrás, considerada uma das empresas mais avançadas do mundo do ponto de vista tecnológico e que sempre faz altos investimentos em formação e pesquisas estratégicas e essenciais para o país. É o privado assaltando o público, e o governo entregando a chave para o assaltante."
Josué Leite Moura (São Paulo, SP)

Desaparecidos
``A questão dos desaparecidos políticos não é apenas uma questão formal e jurídica, é, antes e acima de tudo, uma questão política. Nós, familiares de desaparecidos, exigimos o reconhecimento pelo Estado de sua responsabilidade pelos crimes de tortura, assassinato e ocultação de cadáveres, quando e como se deram esses assassinatos, quais os responsáveis e o local da sepultura de nossos parentes."
Crimeia Almeida (São Paulo, SP)

Vigilância da Amazônia
``O governo se expõe em sua seriedade. Tenta-se minimizar a gravidade do crime, dando ao caso Esca uma conotação de banalidade revoltante. Ricardo Nahat, procurador encarregado do caso, afirmou que `pediu a quebra de sigilo bancário da Esca para investigar se a empresa realmente sonegou as contribuições'. Já o porta-voz do governo, Sérgio Amaral, disse que `até agora foram apuradas apenas irregularidades na contribuição previdenciária da Esca e que o governo espera que a Esca regularize sua situação com a Previdência', concluindo que essas irregularidades não tornam a empresa inidônea, não havendo elementos que justifiquem sua desqualificação para contratar com o governo. Tanto sonegar como falsificar documentos comprobatórios dos recolhimentos constituem crimes, conforme artigo 95 da lei 8.212/95, e a punibilidade dos crimes não se extingue pela promoção do pagamento das contribuições. A sociedade nem sequer conhece a responsabilidade de que se reveste e o grau de complexidade do trabalho da fiscalização previdenciária, em especial nos casos de fraude. A vulgarização do caso constitui completo desrespeito à ação fiscal."
Celia Regina dos Santos, diretora de Defesa de Seguridade Social da Federação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias (Brasília, DF)

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