São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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NA PONTA DA LÍNGUA

MARCELO LEITE

Só se fala nesse tal de vírus Ébola. Ou será Ebola?
Dois leitores ligaram para o ombudsman, esta semana, para dizer que ouviram esta segunda pronúncia -paroxítona, acento tônico na penúltima sílaba- na boca de zairenses e de jornalistas estrangeiros no Zaire, pela TV.
Queriam saber por que a Folha grafa Ébola (proparoxítona, tônica na antepenúltima sílaba).
Pedi uma verificação à Redação e fui informado de que esta já analisava o assunto há dias. De pronto recebi dois relatórios e a informação de que a Direção de Redação decidira manter Ébola.
Li com atenção os argumentos. Noves fora, eis o que sobra:
1. A pronúncia correta, segundo o Itamaraty, seria Ebolá, oxítona, por força de o francês ser a língua oficial do Zaire;
2. Ébola, proparoxítona, seria a forma preferida de locutores de TV de língua inglesa;
3. Ebola, sem acento algum, é a forma adotada por agências de notícias (que não usam acentos em seus despachos).
Em português, lê-se ``ebóla", aproximadamente como fazem alguns correspondentes estrangeiros de TV atualmente no Zaire. Mas, segundo a rede de TV CNN, esta seria também a pronúncia original na língua nativa da região do rio Ebola, berço do vírus letal.
De cara, já achei que a fonte da proparoxítona preferida pela Folha era mais frágil. Esta impressão foi reforçada pela explicação de que a editoria de Ciência adotou o acento na primeira sílaba por eufonia (som agradável ao ouvido) e para manter o padrão.
Sobre o primeiro pseudoargumento: gosto por gosto, eu prefiro Ebola (paroxítona). Soa melhor e muito mais africano. Sobre o segundo: como padrão a ser mantido, entenda-se a primeira escolha do jornal (certa ou errada).
Nem mesmo esta arbitrariedade, por fim, se sustenta. Muito antes da epidemia e do vírus virar coqueluche (se o leitor me permite esta impropriedade), em 29 de janeiro, a Revista da Folha tinha publicado uma surpreendente reportagem de capa sobre ``Ebola, o supervírus".
Sem acento.

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