São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Mulher que gasta e não poupa é insegura

DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

É possível descobrir a personalidade de uma mulher apenas prestando atenção na forma como ela lida com o dinheiro.
Se ela tem facilidade em economizar e investir no mercado financeiro, está no grupo das aventureiras, autoconfiantes, otimistas e das pessoas que gostam de mudança.
Se, ao contrário, tem aversão às bolsas de valores e se sente muito mais feliz em gastar do que em poupar, provavelmente terá medo de fracassar e de situações desconhecidas.
Essa conclusão é de uma pesquisa feita pela revista norte-americana ``Working Woman" (mulheres que trabalham) no mês passado. A pesquisa ouviu 4.200 mulheres em várias regiões dos EUA que responderam a 122 itens.
As perguntas iam desde o tipo de aplicação preferida até o número de relacionamentos afetivos que cada uma já teve.
Segundo a revista americana, a personalidade feminina é fundamental na hora em que a mulher toma decisões sobre investimentos. Muito mais do que sua idade, profissão ou estado civil.
A pesquisa mostra que, apesar da atitude das mulheres em relação ao dinheiro estar sofrendo mudanças profundas, muitas ainda vacilam na hora de investir.
Segundo a revista, as mulheres reconhecem que precisam lidar com dinheiro de maneira mais agressiva, mas não fazem nada para mudar a situação,
Enquanto 44% dizem que ficam contentes quando economizam e investem, 15% ainda se sentem mais satisfeitas quando fazem compras.
A diretora financeira do Banco Industrial, Silvia Benvenvenuti, 33, é um exemplo brasileiro da mulher "otimista". Ela é a responsável pela escolha dos investimentos que o banco faz.
"Tenho o perfil adequado para a função que exerço. Tenho confiança no meu potencial, estou sempre buscando novidades."
Silvia conta que entrou na área de investimento por acaso. Formada em engenharia de produção, começou a trabalhar em banco há 12 anos, como estagiária de informática. "Aos poucos fui saindo do computador. Quando vi, estava na área de investimentos."
Casada há dez anos, com dois filhos de 7 e 3, Silvia trabalha entre 10 e 12 horas por dia e garante que dá conta da casa e do emprego. "É um desafio e tenho que estar sempre me superando, mas vale a pena."
Para Silvia, ainda são poucas as mulheres que trabalham na área de mercado. ``Os bancos estão cheios de mulheres. Mas elas não trabalham com investimentos e sim nos setores de administração e captação de clientes."
A norte-americana Suzanne Meyer Ferreira, 40, diretora de Private Bank do Banco de Boston, também acha que as mulheres poderiam ocupar um espaço maior no setor de investimentos. ``Mas a situação está mudando", diz.
"Gosto de ser posta à prova e de viver num ambiente dinâmico. Preciso ser criativa, persistente. Aqui, nunca tem um dia igual ao outro e estou sempre sendo desafiada. Sem isso, minha vida seria um tédio", diz Suzanne, que mora há 14 anos no Brasil.
O psiquiatra Augusto Capelo, 44, diz que as mulheres que atuam na área de investimentos são -em geral- independentes, incisivas e se atiram com facilidade em novos projetos.
"Elas têm a metade masculina bem desenvolvido, o que não quer dizer que sejam menos femininas que as outras. Só que conseguem ser mais lógicas e retilíneas."
Para Capelo, as mulheres que têm aversão ao mercado financeiro desenvolveram o lado feminino exacerbadamente.
"Elas não pensam em poupar porque não têm o lado sistemático e prático das 'mulheres otimistas'. Também não vêem o controle de suas vidas financeiras como uma prioridade."

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