São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Toxina ajuda a recuperar músculo com rigidez

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma toxina (substância venenosa) produzida por bactérias começou a ser usada no Brasil há poucas semanas para tratar a espasticidade -rigidez muscular severa e contrações involuntárias dos músculos- que aparece em problemas de origem neurológica.
A toxina botulínica -a mesma que causa o botulismo (leia texto abaixo)- é produzida pela bactéria do tipo Clostridio.
A substância é purificada e colocada em frascos especiais. As doses usadas no tratamento são seguras e não trazem riscos.
A técnica é aprovada pelo FDA- departamento do governo americano que controla as medicações e tratamentos em uso nos EUA.
Maria Matilde de Mello Sposito, médica-fisiatra e docente da pós-graduação da Escola Paulista de Medicina, explica que não se observam efeitos colaterais (sintomas indesejáveis que aparecem após o uso de alguma medicação).
O médico utiliza uma agulha especial para injetar a toxina no interior do músculo. Ele procura a junção neuro-muscular -local em que as células nervosas (neurônios) entram nos músculos.
É nessa área que os neurônios liberam a acetilcolina -substância química que provoca as contrações musculares.
Normalmente, o sistema da acetilcolina é balanceado por outro sistema químico. Assim, os músculos se contraem e relaxam.
Em pessoas com problemas neurológicos como ``derrame", trauma de medula, paralisia cerebral e traumatismo craniano, o sistema da acetilcolina pode ficar liberado o tempo todo e o músculo permanece em contração permanente (espasticidade).
Nessa situação, fica muito difícil para os médicos aplicarem as técnicas de reabilitação. Matilde diz que a espasticidade pode levar a uma sequela física definitiva.
A toxina botulínica age no sistema da acetilcolina. Ela entra no interior dos neurônios e ``segura" a substância dentro das células.
Com a interrupção na liberação da acetilcolina, o músculo pára de receber estímulos para se contrair e a rigidez é revertida.
Os efeitos da toxina só começam a ser sentidos cerca de dez dias após sua injeção.
O resultado do tratamento dura seis meses. Depois desse período, a acetilcolina começa a ``escapar" e uma nova aplicação é necessária.
Segundo Matilde, nos períodos em que a toxina está fazendo efeito, o trabalho de reabilitação deve ser intensificado para desenvolver a musculatura, que poderá compensar a espasticidade.
Com a repetição de alguns ciclos de aplicação da toxina e de reabilitação física, a pessoa pode recuperar seu equilíbrio.
O custo é elevado. Cada frasco custa U$ 300 (cerca de R$ 270). Um adulto de 60 kg precisa de três frascos de toxina por aplicação.

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