São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Critérios são polêmicos
FERNANDO ROSSETTI
No Brasil, avaliações sistemáticas do trabalho científico começaram apenas na década passada e estão longe de um consenso. Mas há um acordo importante: quem publica em revistas internacionais e recebe muitas citações está trabalhando em uma linha de pesquisa de impacto científico. O inverso não é necessariamente correto: há bons pesquisadores -embora poucos- com trabalho relevante mas que não estão publicando ou não obtêm, em dado momento, muitas citações. Hoje, a base de dados mais completa sobre publicações e citações é do Instituto para a Informação Científica (ISI, sigla em inglês), entidade privada dos EUA. Foi a partir desta base que se produziu o estudo que a Folha publica. É um dos levantamentos mais detalhados já feitos no país sobre sua ciência. Mas mesmo um levantamento desse tipo produz polêmica. Começando pelos próprios cientistas que pesquisam dados do ISI e seu ``Índice de citações". O bioquímico da UFRJ Leopoldo Demeis, 57, 9º no ranking dos mais citados, afirma que ``ter mais de 200 citações significa que são todos cientistas de alto nível". ``Mas diferenciar o 4º e o 5º lugares não faz sentido." ``As universidades inglesas de Cambridge e Oxford só trabalham nessa faixa alta. Mas não há diferença entre ter 300 e 600 citações", acrescenta. Para Demeis -assim como para a quase totalidade dos cientistas bem citados na lista e ouvidos pela Folha- só se sabe realmente a qualidade do trabalho de uma pessoa quando ele é, também, avaliado pelos seus pares. É o chamado ``peer ranking", expressão inglesa que significa a avaliação de um pesquisador e de sua obra por gente da mesma área. ``Os dados do ISI são levados em conta para uma avaliação, mas não são o único parâmetro", diz, no mesmo sentido, o bioquímico da USP Rogério Meneghini, outro estudioso da área, 22º no ranking. A própria formação de listas (quantitativas) desse tipo encontra obstáculos. O ISI indexa por sobrenome os trabalhos publicados No Brasil, são frequentes sobrenomes compostos, como José Dias Camargo. O cientista José pode ter assinado trabalhos como Dias Camargo J. ou como Camargo J.D. Se com a primeira assinatura José obteve 250 citações e com a outra, 150, só vão ser contadas as da primeira -já que o computador que faz o cruzamento (de brasileiros com mais de 200 citações) não consegue identificar que as duas assinaturas são da mesma pessoa. Por isso, há o risco de pessoas com mais de 200 citações estarem fora da lista dos 170. Outro problema: a base de dados usada para compor a lista tem como parâmetro inicial a filiação a uma instituição brasileira. Assim, um brasileiro que tenha trabalhado no exterior sem vínculo com universidade daqui -como professor afastado- não vai aparecer na lista. Há ainda a questão da autocitação. Pesquisadores trabalham em grupo. O próprio cientista ou seus companheiros podem fazer citações de si mesmos, o que gera um ganho artificial. Texto Anterior: SATISFAÇÃO; CASAL; DERROCADA Próximo Texto: Brasil é sétimo na América Latina Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |