São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Responsabilidade energética

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Passando apressadamente por Londres na semana passada, qual não foi minha surpresa ao encontrar na velha cidade o amigo Matias, produtor agrícola de médio porte do interior de São Paulo, que chegava do Texas onde foi assistir uma feira de implementos agrícolas.
Foi a primeira vez que o Matias esteve nos Estados Unidos. Visitando um daqueles imensos estandes da exposição ficou espantado ao verificar que, no manual de instruções de um freezer industrial que estava cobiçando para a sua fazenda, havia a garantia de que o produto gastaria menos da metade da energia de um similar brasileiro de igual potência. O mesmo acontece com boa parcela das geladeiras domésticas.
Ao levantar vôo do Kennedy, em Nova York, o velho Matias surpreendeu-se mais uma vez ao ver as ruas e praças da redondeza completamente amareladas, o que decorre do uso de lâmpadas na base de sódio que consomem aproximadamente um terço da eletricidade das lâmpadas incandescentes com as quais iluminamos as ruas do Brasil.
Contava-me ele ainda que um motor de 10 kw, acoplado a uma máquina de moer ração exposta na referida feira, consome um terço dos motores de menor potência que usa em sua propriedade, lá em Miguelópolis. E assim foi relatando história atrás de história para mostrar o quanto se desperdiça em energia em nosso país devido ao atraso tecnológico na construção em muitos motores e nos sistemas de iluminação -ambos ultrapassados no que tange ao consumo energético.
O Brasil, para crescer 5% ao ano, precisa investir US$ 6,5 bilhões. Dez anos são necessários para tirar o atual atraso no setor energético. No momento, isso é um mero sonho pois recursos tão gigantescos simplesmente inexistem dentro do país. Mas há uma saída: poupar! O professor José Goldemberg (``Energia Nuclear: Sim ou Não?", São Paulo, editora José Olympio) mostra claramente que, com o mero aperfeiçoamento de motores, geladeiras, lâmpadas e reeducando o nosso povo o Brasil pode economizar, em pouco mais de dez anos, quase US$ 60 bilhões, ou seja, o necessário para tirar aquele atraso. Com muito trabalho, perseverança e inteligência poderemos atingir essa meta.
Mais uma vez reafirmo que essa economia ainda pode ser aumentada com a mudança dos hábitos de boa parte da nossa população. Os consumidores atuais têm muito a contribuir se evitarem iluminar os recintos durante o dia; se colocarem as geladeiras em locais adequados; se passarem roupa ao invés de ligar o ferro para pequenas peças; se usarem o chuveiro elétrico com moderação; e se acionarem as máquinas de lavar e secar com suas capacidades máximas.
Todos temos uma parcela de responsabilidade no desperdício de energia. O Brasil é abundante no potencial hídrico mas a geração, o transporte e a distribuição de eletricidade são empreendimentos caros para os quais jamais teremos recursos se continuarmos a insistir no desperdício atual. Está na hora de se lançar uma campanha continuada em favor da poupança de energia elétrica. Se pouparmos não nos faltará.

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