São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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gol no Oriente

MÁRIO MAGALHÃES

Depois da Itália e da Espanha, eldorados com que todo jogador brasileiro sonhava na década de 80, os 90 são do Japão. Cada vez mais.
Entre 1993 e 1994, 49 atletas saíram do Brasil para ir para lá -sem contar aqueles, como Jorginho, que partiram de clubes europeus.
No ranking da emigração futebolística, o Japão só perde para Portugal, onde a maioria brasileira joga em equipes pobres e ganha mal.
Brasileiro dá certo
``Brasileiros provaram que dão certo no Japão", disse Masaki Toji, executivo do clube Yomiuri Verdy, quando tentava, na Espanha, contratar o baiano Bebeto. A proposta, US$ 208 mil mensais por contrato de três anos, é superior ao triplo do que Romário ganha no Flamengo. Com a negativa de Bebeto, o Yomiuri se inclinou pelo paulista Viola.
O triunfo dos brasileiros no Japão contrasta com a má-fama adquirida na Itália, mesmo com o sucesso de craques como Falcão e Cerezo.
Até hoje, atletas "made-in-Brazil" têm imagem de preguiçosos, pouco profissionais e vítimas de saudade atávica e crises depressivas. "Estrangeiro é mais cobrado. Craque importado tem que ser melhor que os locais", diz Leonardo.
No Japão, ninguém duvida que os nossos ``japoneses" são melhores que os outros. Com esforço e sorte, provocam fenômenos incríveis.
Eterno reserva em times como São Paulo e Flamengo, o paranaense Alcindo se estabeleceu em 1993 no Japão. Catapultado para o estrelato, virou ídolo nacional e síntese do sucesso dos brasileiros no país.
Chitãozinho e Xororó
Marcando gols -antes pelo Kashima, agora pelo Yomiuri-, Alcindo impôs, como corte de bom gosto, o cabelo à Chitãozinho e Xororó. Seu cabelo bate nos ombros e tenta compensar a calvície no alto da cabeça. Nas ruas japonesas, são comuns meninos de cabelos longos e cocuruto raspado. Jogadores aderiram.
A surrealista combinação gols-cabeleira-careca mudou a vida de Alcindo. No Kashima, ele ganhava US$ 17 mil mensais. Embolsava mais como astro da campanha das perucas da empresa Aderans. Até hoje incentiva os japoneses a comprar perucas para exibir, mesmo falsas, madeixas como as suas.
Não custa lembrar que, no Brasil, Alcindo só era conhecido pelos aficionados do futebol, e olhe lá.

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